Folião adora inventar moda. E neste carnaval tem criatividade de sobra – nos braços, com tatuagens douradas; no copo, com o aditivo da catuaba; na fantasia, com o bumbum da atriz Paolla Oliveira; nos cabelos, com a tiara de margaridas; e no bolso, com o isoporzinho, que tem bebida gelada a preço de supermercado. O famoso pau de selfie não está bombando como muita gente previa, mas vendedores contabilizaram bons lucros. Na tarde de ontem, entre a marchinha, o samba e o axé, muita gente mostrou que alegria rima com novidade e dá mais cor e ebulição ao reinado de Momo.
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Na Praça Duque de Caixas, no Bairro Santa Tereza, na Região Leste, os noivos Ricardo Luiz de Souza, empresário, e Daisy Mendes, contabilista, fizeram a festa diante do isopor. “Aqui só tem cerveja. Alias, cerveja e gelo”, revelou Ricardo Luiz, residente no Bairro Jaraguá, na Região da Pampulha. “Com a caixa térmica tenho sempre a bebida gelada, pertinho da gente e com preço bem mais em conta”, afirmou o empresário. Ao lado, a amiga do casal, Luciene Oliveira, também aprovou o sistema, que tem muitos adeptos.
“CATUEJA” Na Praça Duque de Caxias, o ambulante Adimar Silva vendia a bebida que se tornou grande pedida neste carnaval: catuaba. “É um estimulante sexual. Esta aqui é a legítima catuaba selvagem”, contou o vendedor em tom de confidência. Mas é carnaval e tem pra todo mundo: com cerveja, que se tornou “catueja”, misturada com pinga e até em forma de chup-chup. Ao lado da namorada Dária Rodrigues, analista de recursos humanos, o corretor de imóveis Cristiano Soares aprovou a tal catueja. “Combinação perfeita para dar energia e dar mais animação”, aprovou Cristiano, certo de que a bebida serve para turbinar o namoro. “E não é que ele precise, viu?”, assegurou Dária em total harmonia com o samba e o amor.
Com o ritmo contagiante do carnaval, os foliões estavam mais preocupada em dançar e cantar do que registrar o pula-pula no já popular selfie. Mesmo assim, tinha vendedor oferecendo seu produto. “Ontem (domingo) vendi cinco. Hoje, ainda não, pois comecei a trabalhar agora, 16h”, contou o ambulante Charles Barros.
FOLIA EVANGÉLICA
Com a chuva do fim da tarde, muitos desgarrados do Bloco Baianas Ozadas toparam com o Bloco da Mocidade Lagoinha, da Igreja Batista, no encontro da Rua Tupis com a Avenida Afonso Pena. Cerca de 500 foliões vestidos de amarelo e carregando cartazes e faixas de convite à igreja e à oração. O grupo fez uso da bateria com hinos e palavras de ordem em ritmo de samba para chamar a atenção dos foliões da Região Central de Belo Horizonte. Enquanto muita gente buscava abrigo sob as marquises, os protestantes não se intimidaram com as águas vindas dos céus. Pelo contrário, quanto mais a chuva, mais fôlego a bateria da Mocidade Lagoinha reuniu para dançar e cantar louvores. Nas redes sociais, o grupo escreveu: “Foi lindo o que Deus fez, dezenas de jovens indo pular carnaval desistiram e foram atraídos pelas danças, som e teatro, muitas almas salvas pra Jesus!!!!” (Jefferson da Fonseca Coutinho)
EU, FOLIÃO
Luciomar Guimarães, 37 anos
“Estou fantasiada de Mulher Gato, mas não é só a personagem do Batman, não, viu?, mas o ‘gato’ de luz. Sempre gostei de reciclagem, então fiz um poste de papelão, colei os fios e pus a máscara no rosto. Tenho até patrocinadores, basta olhar os nomes colados no papelão. Para falar a verdade, tenho até que devolver a lâmpada da cozinha da minha mãe. Carnaval é isso mesmo…” Moradora do Bairro São Geraldo, Região Leste, Lucimar é terapeuta ocupacional.
Baile de gerações
Com chifrinho de capeta, colar de havaiana e esbanjando simpatia, Alda Rabelo Corrêa, de 63 anos, mostrou que tem muita energia para brincar o carnaval. “Sempre fui animada. Nos tempos de juventude, desfilei no bloco Os Intocáveis, na Avenida Afonso Pena, no Centro de Belo Horizonte”, contou cheia de orgulho ao lado da família, na Praça Duque de Caxias, no Bairro Santa Tereza, na Região Leste da capital. Na tarde de ontem, o espaço público parecia um grande salão de baile, com gente de todas as gerações numa celebração da alegria, ao som das melódicas marchinhas.
“A praça é das famílias e dos amigos”, contou Alda, que mora no Conjunto Ribeiro de Abreu, na Região Nordeste e estava de mãos dadas com a neta Maria Luiza Rabelo Corrêa Crivelo, de 9, vestida de havaiana. “A vovó fez minha fantasia”, revelou a menina. Alda contou que os chifres vermelhos não estavam piscando, porque a pilha tinha acabado. “E pode ficar, assim, na frente da igreja? Não é pecado não?”, perguntou o repórter, de brincadeira, apontando para o templo dedicado à padroeira do bairro. Instintivamente, Alda levou as mãos ao rosto e falou: “Ai, meu Deus! E agora?”, para depois cair na risada. E revelou: “Ô abre alas, que eu quero passar… Esta é minha marchinha preferida”.
O casal Cláudio Costa Eugênio, de 57, empresário, e Edna Almeida Gomes Costa, de 53, se divertiu com a neta Laura, de três. “Gostamos muito desta festa, principalmente no bairro no qual nasci e me criei”, afirmou Cláudio. Não muito longe, o advogado Dilton Procópio, de 70, era todo sorrisos ao lado da mulher Kátia. “Os outros carnavais eram bem melhores, pois a gente brincava só na rua. As marchinhas faziam sucesso”, recordou o advogado.
Mãe e filho no carnaval? Isso mesmo: Walter Rodrigues de Araújo, de 75, fez questão de levar a mãe, Dália da Conceição Araújo, de 95, à Praça Duque de Caxias. “Amo carnaval e já fui campeão no Rio de Janeiro (RJ), em 1992, quando a Escola de Samba Estácio de Sá ganhou com o enredo Pauliceia desvairada”, contou o “folião de primeira”, que tem saudade dos baile de clube, do confete e da serpentina.