Eles não são badalados como os músicos, chamativos feito os dançarinos nem procurados e solicitados quanto os ambulantes do isopor. Podem passar cinco horas de braços abertos, mãos entrelaçadas, respirando fumaça do escapamento do trio elétrico, e mesmo assim atravessar o carnaval inteiro sem ser notados – isso, claro, se o folião não quiser se jogar diante do caminhão de som ou meter seu tamborim no meio da bateria sem ser chamado.
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Até eu, que nunca tive muitas habilidades para o carnaval, me senti útil quando impelido a ajudar o bloco Pena de Pavão de Krishna a descer a ladeira da Rua Além Paraíba, no Bairro Lagoinha – reduto da boemia belo-horizontina até a década de 1970, que voltou a experimentar o ar da folia graças a um dos blocos carnavalescos mais originais, inventivos e coloridos da capital. E, acreditem: a experiência, à parte pisões e alguns roxos no braço, é gratificante e divertida. Uma espécie de área VIP da folia, com visão privilegiada e garrafas de água, cerveja, vinho e catuaba rodando entre os membros no único momento em que as mãos se soltam.
Mas a existência do cordão humano tem outra importância, além da organizacional. Ela extingue a necessidade das cordas, que, segundo a concepção dos organizadores, remontam à segregação das grandes micaretas. Ontem, mais uma vez, o Pena de Pavão de Krishna mostrou que é possível fazer uma festa inclusiva, para todos os públicos, sem abrir mão de sua identidade – uma mistura do sagrado e profano, da espiritualidade Hare Krishna com o batuque do afoxé.
Assim como o cordão humano, os rostos azuis continuam indo contra a corrente – e dão sinais de que continuarão resistindo por muito tempo.