Integrantes do cordão humano dos blocos passam até cinco horas de braços abertos

Eles são voluntários ou amigos dos coordenadores do bloco que garantem %u2013 ao custo de esbarrões, cotoveladas e um ou outro gracejo -, o andamento da folia

por Renan Damasceno 16/02/2015 06:00
Alexandre Guzanshe/EM/DA Press
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)

Eles não são badalados como os músicos, chamativos feito os dançarinos nem procurados e solicitados quanto os ambulantes do isopor. Podem passar cinco horas de braços abertos, mãos entrelaçadas, respirando fumaça do escapamento do trio elétrico, e mesmo assim atravessar o carnaval inteiro sem ser notados – isso, claro, se o folião não quiser se jogar diante do caminhão de som ou meter seu tamborim no meio da bateria sem ser chamado.

Os integrantes do cordão humano são uma mistura de fiscais da ordem e super-heróis. São voluntários ou amigos dos coordenadores do bloco que garantem – ao custo de esbarrões, cotoveladas e um ou outro gracejo –, o andamento da folia. Como não exige muita coordenação com os pés ou mãos, qualquer um pode se candidatar a fazer parte e contribuir para a harmonia da festa.

Até eu, que nunca tive muitas habilidades para o carnaval, me senti útil quando impelido a ajudar o bloco Pena de Pavão de Krishna a descer a ladeira da Rua Além Paraíba, no Bairro Lagoinha – reduto da boemia belo-horizontina até a década de 1970, que voltou a experimentar o ar da folia graças a um dos blocos carnavalescos mais originais, inventivos e coloridos da capital. E, acreditem: a experiência, à parte pisões e alguns roxos no braço, é gratificante e divertida. Uma espécie de área VIP da folia, com visão privilegiada e garrafas de água, cerveja, vinho e catuaba rodando entre os membros no único momento em que as mãos se soltam.

Mas a existência do cordão humano tem outra importância, além da organizacional. Ela extingue a necessidade das cordas, que, segundo a concepção dos organizadores, remontam à segregação das grandes micaretas. Ontem, mais uma vez, o Pena de Pavão de Krishna mostrou que é possível fazer uma festa inclusiva, para todos os públicos, sem abrir mão de sua identidade – uma mistura do sagrado e profano, da espiritualidade Hare Krishna com o batuque do afoxé.

Assim como o cordão humano, os rostos azuis continuam indo contra a corrente – e dão sinais de que continuarão resistindo por muito tempo.

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