Se a sexta-feira foi a prévia do carnaval, Belo Horizonte vai parar. Ontem, até bloco estreante arrastou multidão pelas ruas da cidade. Surpresa para os organizadores do Sexta Ninguém Sabe: não imaginavam que quase 10 mil pessoas ocupariam todo o quadrante formado pelas ruas Fernandes Tourinho, Levindo Lopes, Antônio de Albuquerque e Sergipe, no coração da Savassi. Os quarteirões fechados no entorno da praça também ficaram lotados, mas com a turma que não foi atrás do bloco e preferiu o bate-papo e as inevitáveis paqueras. E, provando que a festa não tem endereço fixo, a farra foi grande também no Jaraguá, na Região da Pampulha, com a turma do Tchanzinho da Zona Norte, que terminou sua performance na Praça da Estação, no Centro da capital, onde já estava o grupo do Tira o Queijo. E, mesmo onde a aglomeração foi menor, a alegria não ficou devendo. Que o digam os integrantes do Beijo Grego, que se reuniram no encontro das ruas Rio Verde e Francisco Deslandes, no Anchieta, Centro-Sul de BH.
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Com o público nos quarteirões fechados, a Savassi recebeu cerca de 15 mil pessoas, mais uma vez acima da capacidade da estrutura oferecida pela administração municipal, principalmente pelo número de banheiros químicos. Como resultado, mais uma vez os cantos viraram mictórios a céu aberto. Na chegada dos foliões, policiais militares tiveram que se desdobrar para controlar o trânsito.
Ninguém segura o Tchanzinho
Do outro lado da cidade, na Praça Manoel dos Reis Filho, em frente ao Clube Jaraguá, o agito já começou à tarde. E bastou o sol descer no horizonte para o público se multiplicar. O Tchanzinho da Zona Norte comemora três anos e tem chamado a atenção de foliões de várias regiões da cidade. É a segunda vez que Sarah Borges e Breno, do Bairro Sion, na Zona Sul, comparecem para prestigiar o bloco. Para os dois, amigos, estudantes de teatro, o melhor do coletivo é a bateria e a força dos organizadores que agrega “gente de todas as artes”. Para Ana Luísa, de 34 anos, moradora do Bairro Planalto, bom mesmo é o repertório. “Cresci ouvindo essas músicas. E eles tocam muito bem”, elogia. São 31 sucessos do axé dos anos 1990. Do É o Tchan – principal inspiração do bloco – são 24. De resto, Companhia do Pagode e Tchakabum. Na bateria, músicos dos blocos Baiana Ozadas, Então Brilha e Juventude Bronzeada engrossam a percussão do Tchanzinho.
Cerca de 80 instrumentistas sobram na levada do grupo comandado pelo maestro Picolé. Cris Lima, de 30, do Bairro Floramar, considera que o belo-horizontino está reinventando a cidade com os blocos de rua. “É um movimento que conjuga diversão e política. Mais que fazer a festa do jeito que a prefeitura quer, as pessoas estão ocupando as ruas criticando o poder público”, diz. Artenius Daniel, o Tetê, conta que o Tchanzinho surgiu para “descentralizar e trazer a galera para a Zona Norte”. “A gente, aqui da ZN, pegava o ônibus assim, fantasiado, e as pessoas não entendiam que estava tendo carnaval na cidade. Aí, a família do Picolé (Rodrigo Heringer) e os amigos da Escola de Música (da UFMG) organizaram o movimento”, diz. Para o professor e jornalista, a ideia do coletivo, além da alegria, é convocar a população para refletir sobre as dificuldades da mobilidade urbana em Belo Horizonte. “A lógica, infelizmente, é privilegiar o carro e o indivíduo”, considera.
Mas, para Tetê, o carnaval de rua já tem feito muita gente repensar a cidade. Por volta das 20h, cerca de 2 mil foliões já haviam fechado o entorno da Praça Manoel dos Reis Filho, complicando o trânsito na região. A Polícia Militar reforçou a segurança no quadrante. Vendedores ambulantes e o comércio local, atração à parte nas cercanias, não tinham do que reclamar. O Tchanzinho desceu a Avenida Sebastião de Brito rumo à Estação Primeiro de Maio. Depois de duas horas de festa em caminhada de música e coreografias, parte do grupo seguiu de metrô para encerrar a festa na Praça da Estação.