O bloco "Magnólia", que desfilou pelas ruas do Bairro Caiçara neste domingo (21/2), em Belo Horizonte, aproveitou a folia para carnavalizar o jazz e o blues. Inspirado nas bandas do carnaval de Nova Orleans, nos Estados Unidos (EUA), a agremiação resolveu, como diz o tema-enredo deste ano, colocar o "Corpo na Rua", levantar a bandeira da diversidade e mostrar que o jazz é, em suas origens, um ritmo do povo negro.
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Tradicionalmente tomada por carros, motos e pedestres apressados, a Avenida Américo Vespúcio foi invadida por saxofones, clarinetes, tumbas e outros instrumentos de metais. A via ganhou, também, a cor laranja, vista no uniforme dos músicos e dos dançarinos
"O jazz é uma cultura popular, a gente não pode esquecer disso. Às vezes, as pessoas elitizam, mas é uma cultura preta. E é muito legal a gente poder trazer as pessoas para a rua", disse Lira Ribas, rainha do bloco.
"A gente levanta a bandeira da diversidade, a bandeira do respeito às diferenças e a bandeira do respeito às origens da música negra e do corpo negro na rua", concordou Iberê Sansara, organizador do desfile.
A ideia de unir o sopro aos tradicionais rufares da bateria, segundo Leonardo Brasilino, maestro da banda do "Magnólia", vai ao encontro da necessidade de preservar os conjuntos musicais de metais - que, para ele, estão "morrendo".
"Muitos dos instrumentistas de sopro que tocam em Belo Horizonte e no estado vêm de bandas de música, então esse celeiro não pode morrer. É de grande importância, não só no carnaval, mas no ano inteiro, a valorização da escola de sopros e percussão e de bandas de música", assinalou.
O "Magnólia" não saia às ruas desde 2020, por causa da pandemia de COVID-19. No reencontro entre músicos e foliões, os dirigentes do bloco esperavam a participação de cerca de 20 mil pessoas. Segundo Iberê Sansara, o tema "Corpo na Rua" representa a apropriação popular dos espaços públicos.
"A música surge na história da humanidade em simbiose com o corpo. O corpo é tão importante quanto a música nos blocos, principalmente no Magnólia, que sempre teve um pouco de baile. Então, estamos trazendo mais pessoas que dançam. Temos o corpo na rua", explicou.
Um dos "corpos na rua", aliás, era o do poeta surdo Gabriel Benfica. Antes do início da apresentação musical, ele fez uma intervenção artística, declamando, por meio da linguagem de sinais, versos contra a homofobia.
"Armas apontadas para mim/ Pessoas me agredindo na rua/ Me assediando na rua/ Meu sangue escorre por entre as veias/ Minha mãe e meu pai me aceitam e eu venho para o carnaval/ As pessoas me olham e me estranham/ Me agridem/ A homofobia me vê e me olha, mas meu corpo está na rua, com o Magnólia/ Chega de homofobia/ Queremos amor, queremos simpatia", disse o artista, para aplausos dos desfilantes.
A tradução da linguagem de sinais ficou a cargo do intérprete Flávio Maia. Ele e Gabriel compõem o coletivo "Todos Estão Surdos". O grupo é formado por poetas que utilizam as mãos para passar recados à sociedade.