Após briga judicial, 'Filhos da PUC' e 'Filhos da PUC MG' saem no carnaval
Houve provocações nos dois blocos, que saíram de pontos diferentes da Região Centro-Sul de Belo Horizonte, com diferença de 1h entre os inícios dos desfiles
Apenas uma hora e menos de dois quilômetros separaram as partidas dos blocos Filhos da PUC e Filhos da PUC MG, no carnaval de Belo Horizonte. Os grupos, formados por alunos e ex-alunos da universidade PUC Minas, travaram uma batalha judicial pela marca, uma das mais conhecidas da folia mineira.
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Desde o ano passado, um desentendimento entre organizadores fez com que dois blocos de nomes similares fossem cadastrados no Carnaval de BH.
A decisão judicial, expedida na segunda-feira (13/2), determinou que o nome do bloco de carnaval "Filhos da PUC" seja utilizado somente pelos fundadores do grupo, que partiu da Avenida Olegário Maciel, no Bairro de Lourdes, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, às 9h. A decisão foi do juiz da 15ª Vara Cível de Belo Horizonte, Eduardo Henrique de Oliveira Ramiro.
O segundo grupo, gerido pela ex-presidente do DCE, saiu na Avenida Getúlio Vargas, às 10h. Para eles, restou a opção de utilizar o nome "Filhos da PUC MG" para registro. Apesar disso, durante seu desfile, o vocalista do grupo Papo de Boleiro, que puxou o trio, se referiu ao bloco somente como "Filhos da PUC". A identidade visual dos blocos era quase idêntica e não havia a presença do "MG" na logo do grupo que perdeu a disputa judicial.
Provocações
Mesmo com a disputa judicial encerrada, não faltaram provocações de um bloco ao outro. O Filhos da PUC foi mais incisivo nas alfinetadas e, logo durante sua concentração, atacou Fernanda Souza, que liderou a batalha judicial com a solicitação de que o nome Filhos da PUC fosse usado apenas pelo bloco comandado por uma empresa criada por ela. "Ei, Fernanda, vai tomar no ...", gritou um dos puxadores do trio elétrico, sendo acompanhado pelo público.
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também foi provocada pelos puxadores do Bloco Filhos da PUC.
Daniel Andrade, 33 anos, um dos fundadores do Bloco Filhos da PUC, comemorou o sucesso do bloco após contratempos. "A satisfação é imensa, depois de tantos problemas que a gente viveu, pessoas tentando sabotar o desfile, outras tentando usurpar uma coisa que não é de uma pessoa, é de uma gama de alunos e ex-alunos que construíram isso do zero. Nossa felicidade é ver todo mundo participando".
No Filhos da PUC MG, as provocações foram mais leves e soltadas pelo vocalista do grupo Papo de Boleiro, que se apresentou sobre o trio. "Filhos da PUC, o verdadeiro bloco é esse aqui", disse o artista, que em momento algum utilizou o "MG", do nome oficial do bloco, ao se referir a ele.
Apesar do clima provocativo, Amanda Caroline, de 27 anos, Relações Públicas do Filhos da PUC MG, destacou o sentimento de união presente no bloco. "Pra mim o bloco é dos alunos, ex-alunos, funcionários e ex-funcionários. São todos Filhos da PUC. O importante é a alegria, participação, todo mundo junto no bloco".
Os desfiles
Quando o assunto foram as avenidas, os dois blocos deram show. O Filhos da PUC encheu a Olegário Maciel e, com um público majoritariamente jovem, embalou a folia ao som de muito funk, eletrônica e depois com a bateria do bloco.
Saindo da Getúlio Vargas, o Filhos da PUC MG também esteve lotado, com um público mais diversificado no quesito idade. Comandado pelo grupo Papo de Boleiro, o trio elétrico tocou grandes sucessos do axé, que estavam na boca do povo que acompanhou o desfile. Também houve ações promocionais e apresentação de bateria.
O que dizem os organizadores
Em entrevista ao Estado de Minas, na sexta-feira (10/2), Gabriel Luna, atual presidente do DCE, afirmou que Fernanda, ex- presidente, fez o CNPJ para conseguir o subsídio da Prefeitura de BH. "Ela conseguiu o valor de R$ 20 mil. Para nós, foi negado, porque tentamos disputar com o CNPJ do DCE. Hoje o bloco da atual gestão é financiado por empresas privadas".
Já Fernanda Souza, ex-presidente do DCE, disse que fez o CNPJ devido a tentativa anterior de pessoas querendo registrar o bloco no CPF próprio. "A ideia sempre foi fazer uma associação, mas para isso precisava fazer um estudo de viabilidade e uma assembleia geral, mas nessa época veio a pandemia. Não conseguimos nos reunir. No ano passado, logo que abriu o edital, entrei em contato com os membros das entidades dos representantes dos alunos (DCE, atléticas, etc) para fazer o bloco em parceria com todos".
Além disso, o juiz que determinou que o nome do bloco de carnaval "Filhos da PUC" seja utilizado somente pelos fundadores do grupo ressaltou que "o simples registro do nome como pessoa jurídica na Junta Comercial garante aos fundadores a proteção legal para os ramos de atividade".
Caso a liminar seja descumprida, a atual gestão do DCE pagará uma multa. "Defiro a liminar e determino aos requeridos que se abstenham de utilizar o nome "Bloco Filhos da PUC" ou variações, para eventos ligados ao carnaval e pré-carnaval do ano de 2023, na Comarca de Belo Horizonte, no prazo de 24 horas após sua intimação pessoal, sob pena de pagamento à autora dos valores eventualmente arrecadados, em dobro, caso a liminar seja descumprida", afirma o documento.
Baianas Ousadas x Havayanas Usadas
A briga envolvendo o bloco Filhos da PUC não é a primeira polêmica do tipo no carnaval de BH. Em 2016, o grupo Baianas Ousadas se separou após um desentendimento sobre o funcionamento da bateria da banda. Daquele ano em diante, nasceu o Havayanas Usadas, que passou a desfilar sob direção de um dos sócios do Baianas. Apesar dos nomes serem diferentes, a sonoridade de ambos é bastante similar.
O Baianas Ozadas era formado por quatro sócios que decidiam e respondiam pelo bloco. "Além da direção, mais oito integrantes formavam a banda. Essa equipe também organizava e trabalhava para ensaiar e colocar o bloco na rua. Após o carnaval de 2016, houve desentendimentos e discordâncias a respeito da estrutura diretora e do papel de cada um no processo, resultando na saída de oito pessoas, entre elas três dos quatro diretores", disse Heleno Augusto, um dos sócios do bloco, em 2017, que hoje faz parte do Havayanas.
Os desentendimentos surgiram em razão do funcionamento da bateria da banda. De um lado, Geo defendia que os músicos assumissem compromisso de se profissionalizar. De outro, Heleno e Peu entendiam que o bloco deveria manter o espírito espontâneo do carnaval de Belo Horizonte.