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Mãe e filho autistas: o desafio de enfrentar as festas de carnaval

Barulho, muitas pessoas e luzes podem provocar uma sobrecarga sensorial, transformando a festa em uma experiência estressante e desesperadora para o autista

Yasmin Rajab - Correio Braziliense

Mãe filho autista Divulgação/Davi Villas
clock 18/02/2023 07:50
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Sol Meneghini tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), assim como o filho, Dudu, de 8 anos. Para eles, o carnaval não é uma época para bloquinhos. Apesar do clima de festa, essa comemoração pode ser um momento de desafio para a família, por conta do excesso de estímulos sensoriais e, também, pela aglomeração intensa.

A dificuldade para lidar com as mudanças é um traço comum entre os autistas. Apesar dos desafios, Sol, que é nutricionista, tenta ver a situação da melhor maneira possível. "Pode ser uma oportunidade para estimular crianças e adultos com TEA a ter novas experiências. É só conhecer seus limites e preferências", conta. 

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A nutricionista acrescenta que nunca participou de um bloquinho de carnaval que tivesse muitas pessoas, mas, neste ano, decidiu inovar e fazer uma viagem, algo que ela também não costuma fazer durante a época de folia. 

"Mudamos esse ano. O Dudu viajou com o pai e eu viajei para Salvador, pela primeira vez iremos participar de um carnaval e a expectativa é grande”, relata. Mesmo animada, Sol permanece com um pouco de receio com a mudança de cenário em um momento de tanta agitação. 

Meneghini acredita que a doença não deve impedir as famílias de introduzir novidades na rotina, desde que os limites das pessoas sejam respeitados. "Sempre respeitando as preferências e limites da pessoa com TEA, é importante trazer novos elementos, como a nossa viagem, para tornar o contato com o novo um processo menos problemático".Para tornar o processo mais tranquilo, a nutricionista faz algumas sugestões: "Aos pais, levem fones abafadores de ruídos para conforto das pessoas que apresentam hipersensibilidade auditiva ou cartões explicativos para se apresentar a outras pessoas. Levar também algo que a criança goste, porque muitos autistas têm objetos que gostam bastante, daí os acalmam."

  

"O ideal é que os pais ou responsáveis façam um planejamento antecipado, com explicações para preparar a criança, apresentando o que é o carnaval e como funciona, para que ela já saiba o que é. Algumas coisas, como o barulho, local com muitas pessoas e luzes podem provocar uma sobrecarga sensorial, transformando em uma experiência estressante e desesperadora para o autista", orienta. 

Para as crianças que ainda não são acostumadas com a época de folia, Sol sugere outros locais para se divertir durante o feriado, como festas com a família dentro de casa ou festas a fantasia com os amigos. A nutricionista também ressalta que é importante estar alerta ao comportamento da criança.

"As frustrações, filas, a demora no atendimento, no pedido de comida em restaurante, a falta de empatia das pessoas, porque as vezes algumas crianças ficam estressadas e gritam, daí pensam que é birra e não é. O grito, o choro, é um pedido de ajuda, tipo: minha cabeça não aguenta, por favor, ajude", finaliza. 

“Existem milhões de pessoas vivendo atualmente no Brasil com autismo”

O médico Vital Fernandes Araújo explica que o autismo faz com que as pessoas sintam, vejam e ouçam o mundo de maneira diferente. “Todas as pessoas autistas compartilham certas dificuldades. No entanto, a deficiência de desenvolvimento ao longo da vida afeta cada indivíduo de maneira diferente, a depender do espectro da condição”, explica.

No caso das crianças, o barulho tem um grande impacto no desenvolvimento e na saúde mental. Sendo assim, durante os períodos festivos, como no carnaval, o nível de sons altos podem ter um efeito negativo nos pequenos.

“Os sons altos podem provocar estresse e ansiedade em crianças autistas, com uma sensibilidade maior aos estímulos. Além disso, elas podem reagir de maneira diferente aos demais, sendo comum a agitação, gritos e comportamentos auto-agressivos. Por isso, é importante que os pais e cuidadores saibam como lidar com essas reações e saibam quando é necessário buscar ajuda profissional”, ressalta.

Apesar disso, o médico esclarece que não é necessário deixar as crianças de fora das festas comemorativas, e cita algumas estratégias para levarem os pequenos para a folia. “As simulações prévias, com estímulos sensoriais e simulações do festejo em domicílio podem antecipar reações e preparar o autista. Mas vale ressaltar que esse deve ser um momento prazeroso, valendo dos familiares respeitar a vontade da criança e sempre assegurar fornecer um espaço seguro e confortável para a criança”, finaliza.

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