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Estado de Minas

Livro conta história do garoto que largou os estudos e virou DJ famoso

'O barulho da lua - A história do DJ Anderson Noise', de Cláudia Assef, terá lançamento nesta sexta (20), em Belo Horizonte


18/12/2019 06:00 - atualizado 18/12/2019 07:41

Anderson Noise no encerramento do Skol Beats, em 2003. Volume aborda principais momentos da carreira do mineiro(foto: Fabio Mergulhão/Divulgação)
Anderson Noise no encerramento do Skol Beats, em 2003. Volume aborda principais momentos da carreira do mineiro (foto: Fabio Mergulhão/Divulgação)

Aos sete anos, o DJ Anderson Noise pediu ao pai, Álvaro, um disco. Sem pensar duas vezes, ele disse ao garoto que não daria dinheiro, mas que o levaria para trabalhar. Desta maneira, o menino teria sua própria grana – até os 12, Anderson ajudou o pai a pintar paredes. Um pouco mais tarde, quando estava na sétima série do ensino fundamental (então 1º grau), disse para a mãe, Nirce, que abandonaria os estudos. Ela fez de tudo, até jogar água no rosto dele, para que se levantasse cedo – mas seu primogênito não tinha o menor interesse na escola.

“É uma pessoa de origem humilde que tomou a decisão de não ir para a escola. A mãe e o pai respeitaram a escolha dele, o que foi muito corajoso. Felizmente, deu muito certo, mas a probabilidade maior era de dar errado. Anderson conseguiu tudo que conseguiu por ser perseverante, um cara acelerado, que faz as coisas a que se propõe. Ele é seu próprio incentivador”, define a jornalista Cláudia Assef.
Referência em música eletrônica no Brasil – é dela Todo DJ já sambou (2003, quatro edições, mais de 20 mil exemplares vendidos), o primeiro e até hoje único livro que acompanha a trajetória da profissão disc-jóquei no país –, Cláudia assina O barulho da lua – A história do DJ Anderson Noise. Com lançamento nesta sexta-feira (20), no Café com Letras Liberdade, em Belo Horizonte, o volume, bilíngue (português e inglês) e recheado de fotos, é um projeto da Natura Musical por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.

O próprio biografado admite que o livro nunca havia sido uma intenção sua. “Há algum tempo, alguns amigos sugeriram que eu fizesse um livro. Então resolvi fazer esse negócio. Mas nunca fui um cara de leitura, sou um cara da escuta. Ainda estou digerindo (o livro), pois é bem diferente do DVD, que era uma coisa que eu queria muito. Na realidade, a ideia inicial era um livro só de fotos, mas, na hora de fazer o projeto, vimos que não podia ser só aquilo. Hoje estou vendo o valor que tem uma biografia. Tive um final de 2018 e um início de 2019 terríveis com a morte do meu pai (de câncer, após um longo tratamento). Então, parece que estou ganhando um presente agora”, comenta Noise.

Anderson nasceu em 21 de julho de 1969 – pouco mais de nove horas depois de Neil Armstrong pisar na Lua. Daí veio a inspiração para o título do livro, que recupera, em tom de uma longa reportagem, a trajetória do DJ e produtor musical de techno. Um dos principais DJs brasileiros que despontaram na década de 1990 (com maiúscula, daqueles que aprenderam na mão a mixar e carregaram cases pesadas de vinis mundo afora), é dos poucos grandes que continuam na ativa.

Álvaro Celso, Adriana Burrows, Alvinho Little Noise, Anderson Noise e Mama Noise. Registro da família do DJ é uma das fotos do livro sobre ele(foto: Acervo pessoal)
Álvaro Celso, Adriana Burrows, Alvinho Little Noise, Anderson Noise e Mama Noise. Registro da família do DJ é uma das fotos do livro sobre ele (foto: Acervo pessoal)


CARREIRA

Com 31 anos de carreira (32 em fevereiro), fez tudo antes de redes sociais, tutoriais e ferramentas que simplificam a vida de qualquer um que queira empreender ao toque de um clique. Duas décadas atrás ele criou seu próprio selo (Noise Music). Também fez suas próprias rádio e canal (Rádio e TV Noise). “O que mais me impressionou (para a pesquisa do livro) foi a baixa escolaridade dele e o quanto foi pioneiro em muitos sentidos na música eletrônica no Brasil. Ele se transformou em youtuber quando ninguém era, quando não havia uma criação de conteúdo intenso na internet. Ele é ponta de lança em muitas coisas, não tinha um modelo para seguir”, afirma Cláudia.

A jornalista entrevistou 30 pessoas para o livro. Cláudia Assef passou um tempo em Belo Horizonte, que acabou se tornando o cenário de boa parte da narrativa. O barulho da lua, por exemplo, recupera a cena underground dos anos 1980 e 1990 na capital mineira – há destaque para casas noturnas que se tornaram históricas para a então nascente cena de eletrônica – The Great Brazilian Disaster, Guilden e Drosophyla. Noise, que antes do apelido que se tornou sobrenome chegou a assinar Anderson Supla, trabalhou como vendedor de roupas para pagar as contas.

A música, desde sempre presente em sua vida, foi ganhando força aos poucos. DJ, ele passou a produzir suas próprias festas – o cenário alternativo de BH da década de 1990 é marcado pelas festas Hyper e Noise, que eram promovidas em locais pra lá de incomuns, como frigorífico desativado, galpões fora do eixo da Savassi e até no Instituto Raul Soares (o evento ficou conhecido como festa do manicômio).
Anderson Noise na infância(foto: Acervo pessoal)
Anderson Noise na infância (foto: Acervo pessoal)

Cláudia, amiga de Noise – os dois se conheceram num voo São Paulo/Londres, em 2002; ela viajava para cobrir um festival em que ele tocaria; na época, o DJ mal sabia o beabá da língua inglesa –, tinha uma limitação de espaço para o livro. Tanto que o relato vai somente até 2009, quando,  já consagrado dentro e fora do país, Noise se apresentou ao lado da Orquestra Bachiana Filarmônica, na Sala São Paulo, sob a regência do maestro João Carlos Martins. “Tive que fazer uma seleção das histórias mais interessantes para cativar a audiência que não é ligada na música eletrônica”, diz a autora.

Ela encerra o livro com o capítulo Sessão de terapia, que reúne trechos de várias entrevistas que ela fez com Noise durante a feitura do volume. “Quis entrar na alma dele para entender que nem tudo são flores. Ele, por exemplo, teve problemas com alcoolismo, toma remédio para depressão. Minha intenção é que uma pessoa leiga chegue ao final saboreando as histórias.”

Até hoje Noise já tocou em 32 países – a Inglaterra, onde esteve mais de 50 vezes, é o país estrangeiro em que mais tocou. Ele alcançou os 50 em 2019 e não pensa em pendurar os fones de ouvido tão cedo. Noise está pronto para novas histórias. Quem sabe numa próxima edição do livro? “As que faltam daqui a pouco vão ter que entrar”, ele afirma.
(foto: Reprodução)
(foto: Reprodução)

O barulho da Lua – a história do DJ Anderson Noise
• Cláudia Assef
• Natura Musical (168 págs.)
• R$ 40.
• Lançamento nesta sexta (20), a partir das 18h, no Café com Letras Liberdade – CCBB, na Praça da Liberdade, 450, Funcionários. O livro também está à venda nas lojas Leitura, Café com Letras Savassi, Livraria da Rua, Usina das Letras (Cine Belas Artes) e Quixote.


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