O multiartista João das Neves convidou o poeta Ferreira Gullar (1930-2016) para a conversa, que estabelece, por meio da poesia, com Emily Dickinson (1830-1886). Emily escreveu: “Por que morreste?”/ “Pela beleza”, respondi – / “E eu – pela verdade – ambas são iguais – / E nós também, somos irmãos”, disse ele. Era 4 de dezembro de 2016 quando Gullar faleceu, deixando como legado uma participação definitiva na poesia brasileira, incluindo o concretismo.
A morte do poeta fez João retornar a versos em que dialoga com a poeta norte-americana, especialmente os citados de Morri pela beleza, dedicando-o a Gullar. “Quando morre o poeta/ mãe da lua esquece o canto/ pois de pranto é feito o seu cantar.” Esta homenagem a Gullar é um dos 50 que compõem o livro Diálogo com Emily Dickinson, com ilustrações de Diane Ichimaru. A obra será lançada nesta quarta-feira (13), no Sesc Palladium, no Centro de Belo Horizonte.
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“Era uma mulher, nos Estados Unidos no século 19, que vivia reclusa em casa. Tinha um mundo interior de riqueza imensa”, afirma. O lirismo profundo é característica da poesia de Emily e também da de João. “O feminino aparece muito. Não como bandeira, mas na maneira como ela escreve.
Emily foi disruptiva na busca por uma linguagem, ao incorporar elementos visuais ao poema. “Ela introduz elementos gráficos impensáveis na época. Avançou muito no seu tempo, é impressionante. Introduz espaços vazios, travessões, destaca determinadas palavras”, diz. Por essa razão, a poeta inspirou expoentes do concretismo brasileiro, como Augusto de Campos.
O primeiro encontro de João das Neves com Emily foi conduzido pelas traduções feitas por Manuel Bandeira (1886-1968). “Manuel foi o primeiro tradutor dela (para o português). Gostei muito e, a partir daí, passei a ter contato muito próximo”, afirma. No poema que fez a Ferreira Gullar, João das Neves também estabelece diálogo com a forma, incorporando aspectos visuais.
No verso “quando morre um poeta/ sabiás voam e cantam sem parar/ entregando sua alma ao infinito/ aonde brilha/ e/ terna a luz solar”.
Diálogo com Emily Dickinson
. João das Neves
. Independente
. 120 páginas
. R$ 50.