No Brasil, as imagens que a paulista Tarsila do Amaral (1886-1973) criou ilustram até jogos de quebra-cabeça em lojas de brinquedo e livrarias, mas nos Estados Unidos seu nome ainda soa desconhecido. Com atraso de quase um século depois de ter pintado Abaporu, considerada a obra de arte brasileira mais valiosa, isso talvez mude um pouco a partir deste domingo (11), quando o Museum of Modern Art (MoMA) abre a exposição monográfica Tarsila do Amaral: Inventing modern art in Brazil.

A estreia de Tarsila em Nova York coincide com um marco histórico. Em 11 de fevereiro de 1922, foi aberta, no Teatro Municipal de São Paulo, a Semana de Arte Moderna, na qual artistas e intelectuais apresentaram novas formas de expressão libertas da estética do século 19, regida pela tradição europeia, e abriram caminhos para a invenção de uma arte brasileira independente e moderna.
Tarsila não participou pessoalmente daquela manifestação, pois estava na Europa. Porém, ao criar pinturas que transcrevem visualmente o discurso antropofágico, movimento cultural com maior destaque naquele período, ela se tornou uma das figuras principais na gênese e no desenvolvimento da arte moderna que a Semana de 22 preconizou.
“A figura de Tarsila é inextricavelmente ligada ao projeto moderno brasileiro”, diz o historiador Luis Pérez-Oramas, que organizou a 30ª Bienal de São Paulo, em 2012. Oramas assina a curadoria da exposição no MoMA em parceria com Stephanie D’Alessandro, ex-curadora de arte moderna internacional do Art Institute of Chicago, onde a mostra da pintora foi exibida no fim de 2017.
Ao ressaltar a importância de Tarsila, Stephanie enfatiza que sem os desenhos e pinturas dela, “o movimento cultural mais importante na história moderna brasileira teria um efeito muito diferente na produção artística nacional depois de 1920”.
Cronológica e com abordagem temática, Tarsila do Amaral: Inventing modern art in Brazil exibe cerca de 130 trabalhos, entre pinturas, desenhos, cadernos, fotografias e documentos. A negra (1923), Abaporu (1928) e Antropofagia (1929), três das principais obras da paulista, formam o núcleo da exposição.