
Quando duas das mentes mais criativas do Brasil se encontram, música e literatura podem virar uma coisa só. O compositor e multi-instrumentista Egberto Gismonti tem Guimarães Rosa como referência e fonte de inspiração. Encerrando o projeto Ocupação Rosa Encantado, no Palácio das Artes, ele volta a BH no domingo (3) à noite. Vai apresentar músicas que dão ritmo ao universo roseano.
Em 2009, a vasta discografia de Egberto, de 69 anos, ganhou um título concebido como romance. O álbum duplo Saudações traz Sertão veredas, composição de 70 minutos, em sete movimentos, dedicada inteiramente à obra de Guimarães Rosa. “Passei quase quatro anos para escrever essa peça, era sempre consolado por meus amigos literatos. O João Ubaldo (Ribeiro) falou que estava escrevendo um romance, não uma canção, e que era coisa de três, quatro anos mesmo. Às vezes, eu perdia a noção disso”, relembra o compositor.
PAIXÃO Além de Guimarães Rosa, Gismonti visitou obras de outros ícones da literatura em sua música, como João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado e Ferreira Gullar.
Entre os escritores que o compositor reverencia, o mineiro de Cordisburgo ocupa um lugar especial. “É o autor mais original do país, criador do mais extenso romance brasileiro, por costurar um Brasil concentrado num espaço, os sertões e veredas, que revela um tipo de gente que somos, fomos e seremos. É tão verdadeiro, nem diria atual, que todos nos reconhecemos dentro do Grande sertão”, argumenta.
Para Gismonti, o processo de musicalizar uma obra literária é natural de sua linguagem. “‘Transportar’ da literatura para a música é percepção só de quem está de fora. Tem que usar este termo mesmo, mas, pra quem está de dentro, não é preciso pensar que vou traduzir literatura para a música. Naturalmente, a língua que falo é a música. Se fosse para fazer um poema, aí eu iria me lascar”, explica.
BIA LESSA Além do álbum Saudações, a admiração por Guimarães Rosa – a quem Gismonti atribui uma “liberdade extraordinária para a descrição dos fatos” – rendeu outra possibilidade musical. É dele a trilha sonora da peça Grande sertão: veredas, dirigida por Bia Lessa, que estreou em setembro, em São Paulo. No mês que vem, a montagem fará temporada no Rio de Janeiro. Amanhã à noite, Bia subirá ao palco do Grande Teatro para ler um texto de Rosa, acompanhada por Gismonti ao piano.
O repertório do fluminense para a Ocupação Rosa Encantado se baseará no diálogo entre as palavras de Guimarães e suas melodias. Felipe José (violoncelo), Nivaldo Ornelas (saxofone) e Rafael Martini (acordeom) acompanharão Gismonti.
EGBERTO GISMONTI
Ocupação Rosa Encantado. Domingo (3), às 20h. Grande Teatro do Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. Entrada franca. Os ingressos começaram a ser distribuídos na sexta-feira. Recomenda-se verificar previamente a disponibilidade de entradas. Informações: (31) 3236-7400.