Abu Dhabi ganha sua própria versão do Louvre, de Paris

Museu terá obras de diferentes culturas reunidas em um mesmo espaço, com a intenção de ser 'universal'

AFP
Louvre de Abu Dhabi é composto por 55 edifícios brancos e uma cúpula de 180 metros de diâmetro composta por 7.850 estrelas de metal. - Foto: Giuseppe Cacace/AFP
O Louvre de Abu Dhabi foi inaugurado nesta quarta-feira, 08, uma década depois do lançamento do projeto, apresentando-se como um "museu universal" com uma mensagem de tolerância. ''Hoje é lançado um monumento cultural mundial: o Louvre de Abu Dhabi reúne ícones da arte que refletem o gênio coletivo da humanidade'', disse o príncipe herdeiro emiradense, Mohamed bin Zayed, pouco antes da inauguração oficial.

''Nossas religiões e nossas civilizações têm vínculos indestrutíveis'', disse o presidente francês, Emmnuel Macron, que compareceu à cerimônia. ''Os que querem fazer acreditar, em qualquer parte do mundo, que o Islã se constrói destruindo as outras religiões monoteístas são mentirosos e traidores'', acrescentou Macron.

O dirigente de Abu Dhabi, Macron e sua esposa visitaram as imensas salas brancas do museu, por onde passaram também o rei Mohamed VI do Marrocos, o presidente afegão, Ashraf Ghani, e o arquiteto do edifício, Jean Nouvel. O museu, situado na ilha de Saadiyat, abrirá suas portas ao público neste sábado, 11, com festividades que irão até 14 de novembro.

MEDINAS ÁRABES A arquitetura do novo Louvre é inspirada nas medinas árabes, com um conjunto de 55 edifícios brancos.  Os visitantes poderão caminhar por espaços com vista para o mar ou debaixo de uma cúpula de 180 metros de diâmetro, composta por 7.850 estrelas de metal, que filtra os raios de sol, criando o que Jean Nouvel chama de uma "chuva de luz".       

Jean-Luc Martinez, presidente do Louvre em Paris, que viajou a Abu Dhabi para a inauguração, explicou que o museu foi concebido ''para se abrir aos demais'' e ''entender a diversidade'' em ''um mundo multipolar''. O Louvre de Abu Dhabi é ''um museu universal, o primeiro do mundo árabe'', declarou. 
 
 
Diferentemente dos outros museus, cujos percursos propõem uma classificação por estilos ou civilizações, este expõe os temas universais e as influências comuns entre as culturas, da pré-história até os dias de hoje. Na mesma sala se poderá ver, por exemplo, uma folha do Alcorão Azul, realizado no século IX, uma torá iemenita de 1498 e dois volumes de uma bíblia gótica do século XIII. 

Mas a estrela do museu, segundo seus promotores, é La belle ferronnière, um quadro de Leonardo da Vinci emprestado pelo Louvre de Paris.  No total, 13 museus franceses colaborarão com o novo museu, contribuindo com sua experiência e com o empréstimo de cerca de 300 obras, incluindo um autorretrato de Vincent van Gogh.

ACORDO BILIONÁRIO O novo museu é fruto de um acordo intergovernamental assinado em 2007 entre Paris e Abu Dhabi, que estará vigente por 30 anos. O contrato, que inclui poder usar a marca do Louvre e a organização de exposições temporárias, alcança um bilhão de euros, sem contar o custo da construção do museu nos Emirados, que não foi revelado. A coleção permanente dos Emirados contará com cerca de 600 obras, das quais 235 estarão expostas na abertura.

Foram tomadas medidas excepcionais para garantir a segurança e a conservação das obras de arte, em um país onde as temperaturas ultrapassam 40ºC no verão.
O projeto gerou polêmica na França, onde algumas vozes se indignaram ante o aspecto "mercantil" da operação e a "venda da marca" Louvre.

Várias ONGs, como a Human Rights Watch, se mostraram preocupadas com as condições dos trabalhadores imigrantes nas obras. O Louvre de Abu Dhabi, cuja abertura foi adiada várias vezes por problemas de financiamento, é o primeiro de três museus a abrir suas portas no distrito cultural de Saadiyat.  Deverão segui-lo o Guggenheim, concebido pelo arquiteto canadense Frank Gehry, e o Zayed National Museum, pelo britânico Norman Foster. 

A construção do Guggenheim também está atrasada e se tornou um projeto menos ambicioso, em um contexto de incerteza nos Emirados, devido à queda dos preços do petróleo, sua maior fonte de rendimentos. 
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