
Em 12 histórias curtas, a autora explora temas que também aparecem nos seus romances, especialmente Meio Sol Amarelo e Americanah (romance de 2014, outro dos trabalhos que transformaram Chimamanda em celebridade): migrações entre África e EUA, relacionamentos amorosos, a relação de mulheres negras com o próprio cabelo. Racismo.
O desafio que ela se coloca, entre ser artista e ser ativista ao mesmo tempo, é buscar a "verdade emocional", porque ela concorda que escritores em uma missão podem se tornar maus autores. "Quando artistas permitem que a missão afunde todo o resto, quando personagens se tornam não defeituosos e complexos, mas falantes achatados, isso (fazer arte ruim) pode ser verdade", diz, por e-mail, à reportagem.
"Dito isso, eu realmente acho que a maior parte dos artistas está numa missão, a questão é se essa missão é bem executada. O próprio ato de escrever, de contar uma história, é político. Porque a arte não cai do céu. A arte que criamos é um produto dos espaços que ocupamos no mundo.
O sucesso com o ativismo feminista também é ambíguo para a escritora - ela relata vários casos de pessoas (homens) que lhe dirigiram hostilidades em eventos públicos, num nível que ela não havia experimentado antes. "E agora me chamam para qualquer evento feminista no mundo", brincou em outra entrevista recente.
"Quando escrevo sobre feminismo, isso vem de um lugar por fim ideal, de um desejo de trabalhar em direção a um mundo que é verdadeira igualitário", diz. Para Educar Crianças Feministas: Um Manifesto também foi lançado pela Companhia das Letras este ano (o título original é Dear Ijeawele, or A Feminist Manifesto in Fifteen Suggestions).
A obra é uma versão reduzida de uma carta que Chimamanda enviou para uma amiga, que lhe pediu conselhos para criar a filha como feminista. "Penso que é moralmente urgente termos conversas honestas sobre outras maneiras de criar nossos filhos, na tentativa de preparar um mundo mais justo para mulheres e homens", escreve - ela também é mãe de uma pequena de 20 meses. O livro é um dos 10 mais vendidos do Brasil este ano na categoria não ficção, segundo o PublishNews.
Sobre os contos de No Seu Pescoço, Chimamanda diz que eles representam um lugar na sua carreira, mas não demonstra muito entusiasmo ao falar deles: a recepção crítica em língua inglesa, na época do lançamento, foi mista.
Michiko Kakutani escreveu no The New York Times que o livro mostra a África "em uma comovente coleção de contos, e que não é aquela África com que os americanos estão familiarizados pela televisão ou manchetes de jornal". Em outra resenha no mesmo veículo, o crítico Jess Ross escreve que em alguns contos Chimamanda parece tentar "entregar as notícias que o Ocidente quer ouvir sobre a África: vítimas de dar pena, vilões incorrigíveis, sobreviventes inspiradores". Em seguida, porém, ele ressalta que essa impressão não dura muito e que a autora "calmamente eviscera as pretensões dos ocidentais cujo interesse na África mascara uma venalidade gananciosa e vaidosa".
"Para mim, escrever ficção é um processo de contar a minha própria verdade e, ao mesmo tempo, espero levar outras pessoas comigo", diz Adichie ao Estado. "A decisão de escrever cabe a uma pessoa, mas a decisão de publicar o trabalho é sobre outras pessoas. Eu não pretendo, na minha ficção, mudar a cabeça de ninguém, mas sempre fico feliz ao escutar que mudei."
Ela rejeita a ideia de que os contos tratam sobre mal-entendidos. "Culturas são diferentes e pessoas olham de maneiras diferentes para as mesmas coisas", explica. Ela também não quis comentar se mais ficção vem aí. "Sou uma mulher igbo supersticiosa e não falo sobre trabalhos em andamento", ressalta.
Em uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em 2014, Chimamanda se dizia feliz com Obama na presidência, embora não concordasse com algumas decisões do ex-presidente americano.