
Um dos cinco vencedores da sexta edição do Marcantonio Vilaça, principal prêmio dedicado às artes no país, anunciado neste mês, o mineiro Pedro Motta, de 40 anos, contraria o que o senso comum espera de um fotógrafo. Ele costuma trabalhar com um equipamento mínimo (uma câmera e duas lentes; poucas vezes usa um tripé) e pode ficar por semanas sem sair para fotografar. Quando o faz, mesmo utilizando um equipamento digital, pensa como se estivesse com uma câmera analógica. Tenta fotografar o mínimo possível.
''Naturalmente, meu trabalho foi caminhando para as artes plásticas. Não tenho mais a conduta do fotógrafo que vai para a rua fotografando coisas. Muitas vezes trabalho meses a fio na concepção do trabalho. Fico elaborando e, quando saio para fotografar, faço em poucos dias ou até em horas. No meu caso, a pós-produção é muito pesada.
Na edição 2017 do prêmio, os jurados foram Anna Bella Geiger, Marcus Lontra, Paulo Herkenhoff, Ricardo Resende e Wagner Barja. É a trajetória de cada artista que está em avaliação, e não um único trabalho. Além de Motta, os outros vencedores foram Daniel Lannes (RJ), Fernando Lindote (SC), Jaime Lauriano (SP) e Rochelle Costi (SP). Cada um recebe R$ 50 mil e um ano de acompanhamento de um curador ou crítico de arte.
Além disso, os trabalhos dos cinco vencedores vão percorrer o Brasil até 2018. Uma exposição itinerante percorrerá Brasília, Rio de Janeiro, Fortaleza, Goiânia e Porto Alegre. Atualmente, obras dos vencedores e dos finalistas (20 ao todo) do Marcantonio Vilaça estão expostas no Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MuBE), em São Paulo. A coletiva vai até 1º de outubro.
PAISAGEM Fotógrafo desde os 17 anos, mas há duas décadas envolvido com artes plásticas (desde que entrou na Escola de Belas Artes da UFMG), Motta tem como grande tema a paisagem – urbana, rural ou natural. ''Ela traz sempre algum resquício da passagem pelo homem'', diz. ''Tento fotografar o mínimo possível com a maior qualidade possível. Busco fazer o enquadramento correto e vou a campo colher as imagens num dia determinado. É fundamental que seja num momento muito específico – saber dia e hora corretos.''
De um tempo pra cá, seu trabalho vem caminhando para deixar a bidimensionalidade e entrar na tridimensionalidade.
Fotógrafo representado por algumas das principais galerias do Brasil – Luisa Strina (em São Paulo), Celma Albuquerque (em Belo Horizonte), Silvia Cintra %2b Box4 (no Rio), além da Bendana-Pinel (em Paris), Motta também tem trabalhos nos acervos do Museu de Arte de São Paulo (Masp), Museu de Arte do Rio (MAR), Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Museu de Arte da Pampulha (MAP) e Fundação Clóvis Salgado, entre outras instituições.
''Tive sorte por ter contado com uma certa aceitação (do mercado) desde o início da carreira. Obviamente, com o tempo as coisas foram sedimentando. Acho que o grande mérito do meu trabalho é a coerência. Desde os antigos até os mais recentes, você vê a sintaxe da fotografia que venho fazendo. Da paisagem urbana migrei para a rural. E a estrutura das imagens está sempre muito associada à escultura, ao próprio desenho.
Nascido em Belo Horizonte, Motta vive há seis anos com a mulher, a também fotógrafa Kátia Lombardi, num bairro afastado da área central de São João del-Rei, no Campo das Vertentes. Por vezes, fica uma semana sem sair de casa. ''Moro num lugar como se fosse uma ilha, só que seca. Abro a janela de casa e vejo a Serra de São José. Em cinco minutos de bicicleta estou no Rio das Mortes. Tenho um jardim para cuidar todos os dias, faço a manutenção da minha própria casa. Ou seja, estou interferindo na minha paisagem.''
A mudança, é claro, refletiu em seu trabalho. ''Meu quintal já foi pano de fundo para vários trabalhos, serviu como um laboratório. A paisagem natural é muito presente em casa. Uma periferia vem sendo construída próximo da minha casa, o que vem criando um interesse para mim. Quero me aproximar disso, então vai ser natural que a expansão periférica (ao lado de casa) venha a aparecer num trabalho'', conclui.