
A foto, que passa a sensação de vertigem, como observa a artista, abriu espaço para que ela desse vazão, de forma mais radical, a um aspecto que sempre esteve em seu trabalho: o desejo de que a fotografia tenha potência, seja como poética ou como visão de mundo. Ela explica que essa motivação leva em consideração a dimensão documental e a ficcionalização como partes da história da fotografia.
Parágrafos Cláudia Jaguaribe está apresentando um conjunto de trabalhos realizados entre 2011 e 2016, até 15 de outubro, na Celma Albuquerque Galeria de Arte. Ela conta que as obras trazem sua visão de fotografia, assim como seu processo de criação, que se vale de diversos formatos, técnicas, suportes, recursos etc. “Cada foto tem um universo próprio, um contexto, desde o modo de trabalhar a foto até o modo de apresentá-la”, explica. “Vim das artes visuais, da pintura, gravura e desenho e encontrei na fotografia um meio elástico que posso usar dos modos mais distintos”, justifica. “As imagens no meu trabalho são como palavras que uso para construir frases, parágrafos. O conceito e o fazer são importantes para mim”, afirma, lembrando-se do uso de recortes, colagens, intervenções, e esculturas.
Para Cláudia, as misturas aludem ao mundo e à vida contemporânea marcados pela simultaneidade. “Estamos sempre diante de situações que remetem à multiplicidade. Nunca há um caminho, mas várias vias”, observa. A isso acrescentam-se as tecnologias digitais, que oferecem muitas formas de intervir nas imagens. O procedimento usado também responde a uma inquietação: “Hoje, todo mundo fotografa e a fotografia é onipresente na nossa vida. Então, se você não busca algo que tenha potência, que diga algo, a foto cai no vazio.
Cláudia conta que há motivos recorrentes em seu trabalho. Um deles é a paisagem urbana ou, como ela diz, “o como e onde vivemos e como isso nos afeta”. Outro é a natureza, “mas de um ponto de vista urbano”. E suspeitando que a natureza, como entendida até agora, está chegando ao fim – já que as sociedades estão cadas vez mais urbanas e o mundo cada vez mais virtualizado e artificializado –, o tom das fotos também oscila. Ela explica que as imagens “podem ser bem etéreas ou muito sólidas”, fazer uma consideração estética ou social, enunciar situações épicas ou íntimas, carregar o desejo de preservar um modo de viver e sentir o mundo e também registrar transformações. “Minhas fotos trazem o sentimento e a experiência de uma cidade, potencializam algo que está aí, mas ainda não definido”, observa.
A artista conta que não tem um método de trabalho, mas que, ao se aproximar de temas de seu interesse, aos poucos as questões e a forma de apresentá-los vão se definindo. “São fotos que vão se construindo por si mesmas. Estou sempre procurando um modo de representar a espacialidade urbana”, explica. O momento atual, segundo ela, é resultado de muitas investidas, erros e acertos, tateando formas de materializar o que sentia. Há muitas imagens do Rio de Janeiro e de São Paulo, mas a fotógrafa avisa que está falando de aspectos de qualquer cidade.