
A primeira exposição de Marcos Garcia ocorreu em 1978, logo depois de ter frequentado a Escola Guignard por três anos. De lá para cá, o artista vem produzindo muito e nunca interrompeu a prática do desenho. Embora tenha trabalhado com pintura, uma enfermidade que lhe impede de andar e limita seus movimentos tornou demasiadamente árduo o exercício da pintura. Agora, dedica-se ao desenho em pequenos formatos.
Marcos fala de arte com paixão e, ao conversar com ele, fica visível seu interesse pela história da arte. Alguns de seus desenhos citam outros artistas, Carybé, Tarsila do Amaral. Em cenas de interior, são comuns naturezas mortas, tanto no próprio quadro quanto usando da metalinguagem de desenhos de outros quadros nas paredes da situação retratada. Mas o tipo de desenho deixa mais explícita a relação com o imaginário de artesãos da arte popular nordestina – as xilogravuras de J. Borges ou J. Miguel e os cordeis que tratam as formas bem definidas e a perspectiva de maneira a sobrepor os elementos, respeitando apenas a proporção.
O universo da arte popular também pode ser notado nos temas: são homens com chapéu de couro estilizado, bandeirolas juninas, mulheres carregando latas ou fitas na cabeça, vendendo peixes, violeiros em seresta, barcos e casarios coloridos. Destes casarios, que, em sua maioria criam combinações geométricas, pode-se atribuir relação com a pintura de Heitor dos Prazeres, Nelson Sargento ou o ítalo-mineiro Lorenzato.
A natureza é sempre presente: árvores e coqueiros estilizados, cães, gatos, tatus, borboletas, galinhas e passarinhos, com destaque para os felinos que habitam os cantos dos trabalhos, quase uma assinatura pessoal do artista. Vale ressaltar a frequente presença do circo, univeso que simboliza exatamente o misto de fantasia e realidade, com encanto plástico e visualidade única. Trapezistas, palhaços, acrobatas e malabaristas povoam seus trabalhos recorrentemente.
No primeiro conjunto, destaca-se a composição dos elementos e as cores vibrantes, ambos cuidadosamente dispostos para compor e preencher os limites do papel. Desenhados com lápis aquarela sobre cartão, na segunda série, o artista usa esferográfica para criar texturas e adornar detalhes. Nesta sequência, os desenhos são composições de outra ordem, em que o simbolismo é a marca dominante. Marcos Garcia conta que não busca referências quaisquer e que trabalha, sobretudo, com suas memórias e sua imaginação.
Em um mesmo desenho, portanto, é possível notas referencias~ católicas e de origem africana, formas das culturas pré-colombianas, acrescidas de letras, números, animais e detalhes exclusivamente formais.
A série mais curiosa – e surpreendente, embora de menor impacto visual – da mostra são trabalhos de 2013 e 2016, desenhos em linha e de teor erótico. O artista diz que tinha certa vergonha de mostrá-la, mas que o diretor do Centro de Arte Popular Popular da Cemig, Tadeu bandeira, e a curadora, Pricila Freire, dois grandes conhecedores da produção chamada popular, o convenceram de exibi-la. Os elementos são os mesmos, com seu estilo característico, mas retratam homens e mulheres – às vezes apenas homens, outras só muheres – nus e sugerem um jogo de cena em que a sedução transparece, insinuando sexualidades.
O acrobata das cores
Exposição de Marcos Garcia. Centro de Arte Popular da Cemig (Rua Gonçalves Dias, 1.608, Lourdes). De segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado e domingo, das 12h às 19h. Entrada franca..