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'Fiz dezenas de apresentações completamente embriagado', revela Nando Reis
Cantor e compositor declarou que o vício em bebida começou ainda na adolescência, aos 13 anos, e durou até os 53
O cantor e compositor Nando Reis, de 60 anos, deu um longo depoimento à revista Piauí falando sobre o vício em álcool e cocaína que o acompanhou por grande parte de sua vida. Texto foi divulgado na última sexta-feira (28/07).
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O músico, atualmente em turnê com os antigos companheiros da banda Titãs, declarou que o vício em bebida começou ainda na adolescência, aos 13 anos, e durou até os 53, quando ele deixou de beber de vez, recuperando sua sobriedade.
"Estou há quase sete anos sóbrio, mas não deixei de ser alcoólatra: consigo sentir a compulsão dentro de mim", declarou. "Eu era um cara inseguro e muitas vezes não me sentia à vontade no meio artístico. Tinha dificuldade de lidar com a hostilidade, a competitividade e a inveja no ambiente em que atuo. Esses sentimentos faziam com que eu me visse ameaçado e o álcool atenuava essa angústia", acrescentou.
Nando admitiu que o vício afetou a relação com os demais membros dos Titãs, grupo que ele ajudou a fundar em 1982 e que deixou em 2002, após se lançar em carreira solo.
O artista também falou sobre o consumo de cocaína, que começou quando ele tinha 27 anos e o levou ao vício cruzado entre álcool e cocaína. "Eu não me importava de ficar bêbado e cheirado, ao contrário: achava graça nisso. Me divertia sendo o mais doido, o que cheirava a maior carreira, o que bebia todas. Eu me tornei a figura folclórica, o cara que virava cinco noites sem dormir e fazia shows nesse estado. Fiz dezenas de apresentações completamente embriagado", admitiu.
A dependência cruzada fez com que o abuso das duas substâncias virasse rotina. Lúcido atualmente, ele aponta que o efeito da droga e da bebida camuflavam a insegurança e a timidez, sentimento e característica rejeitados pela indústria musical.
"O estímulo advindo da ingestão de álcool e do consumo de drogas me levava a pegar o violão e compor. Virava a noite com o violão, uma garrafa de vodca ou de uísque, papel, caneta e cocaína. Eu bebia, cheirava, me sentia culpado por isso e falava: 'Tudo bem, eu cheirei, mas agora, para compensar, tenho que fazer uma música'", disse.
O astro também contou como o vício afetou seu casamento com sua mulher, Vânia, com quem ele está, entre idas e vindas, desde os 15 anos e como as mortes do amigo e companheiro de banda, Marcelo Fromer (1961-2001), e da cantora e compositora Cássia Eller (1962-2001) levaram ainda mais para o fundo do poço.
Em 2016, em uma viagem para Seattle, nos Estados Unidos, Nando Reis pensou em tirar a própria vida. Chegou a comprar uma pomada anestésica para passar no pulso e a quebrar uma garrafa para ter um objetivo cortante.
"Não tinha a menor condição de subir no palco e cumprir meus compromissos. Pensei: 'Fudeu, vou me matar'", relembra. "Não tive coragem de ir até o fim", continuou, confessando que essa não era a primeira vez que havia tentado se matar.
A redenção, veio no mesmo ano, no dia em que ele iria se apresentar ao lado de Gilberto Gil e Gal Costa (1945-2022), em 2016, em Brasília. "Se eu me apresentasse bêbado ao lado do Gil, eu simplesmente ia arruinar a minha carreira", declarou Nando, que até hoje participa de reuniões dos Alcoólicos Anônimos (AA).
Após 21 anos de sua saída do Titãs, Nando Reis voltou aos palcos com o grupo em abril deste ano para uma turnê comemorativa. "Reencontrar meus amigos para uma turnê agora, após quase sete anos limpo, é uma experiência inédita e significativa. Esse processo da recuperação da sobriedade e, consequentemente, da lucidez é uma espécie de despertar para mim", celebrou.