Com a palavra, o folião: estrelas do carnaval de Belo Horizonte em 2023, anunciado como a maior edição da história da cidade, quem participou da festa ao longo dos quatro dias já tem uma visão do que curtiu, o que pode melhorar e o que precisa ser deixado de lado para os próximos anos. Segurança, animação, variedade musical, organização, estrutura dos blocos, distribuição de banheiros e transporte público estão entre os pontos mais destacados por quem foi às ruas e contou suas impressões ao Estado de Minas antes de tudo se acabar na quarta-feira.




Na terça-feira (21/2), dia derradeiro da festa, BH reuniu blocos como o Funk You, com nomes importantes do gênero na capital mineira; o já tradicional encontro do forró com a folia do Pisa na Fulô; a música baiana no Juventude Bronzeada; e até mesmo promoveu o encontro da capital mineira com o jazz de Nova Orleans com o Magnólia. Neste último, Carolina Giovanetti e Gislane Caetano destacaram que a diversidade musical é um dos pontos positivos do carnaval de Belo Horizonte.

“A gente vê muita heterogeneidade dos blocos. Você vai num rock, vai num samba, axé, funk”, disse Carolina. “A variedade de horários também é uma coisa boa. Não são tantos blocos que acontecem ao mesmo tempo, então a gente pode aproveitar quase tudo”, completou Gislane. 

Ambas concordaram que, entre os poucos pontos negativos, a disposição de banheiros químicos, especialmente em blocos maiores, deveria ser melhor. A crítica é recorrente nas análises dos foliões. Pedo Loures e Sabrina Duarte já são frequentadores assíduos do carnaval de BH e corroboram a visão de Carolina e Gislane, adicionando uma crítica à oferta de transporte na cidade.




“O transporte, achei bem ruim, mas de resto achei ótimo. Os bloquinhos foram bem organizados. Fomos nos menores, mais musicais, instrumentais, e evitamos o Centro, então banheiro era tranquilo de usar”. Sabrina concorda: “O transporte estava realmente ruim, e outra questão, pra mim, foi que tudo estava muito lotado. Tinha bloquinhos que a gente não conseguia nem andar direito, ficamos parados. Mas a organização da maioria ainda era boa”

Em balanço atualizado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) até a segunda-feira (20/2), 1.930 bloqueios de vias foram feitos para a realização dos cortejos desde sexta-feira (17/2). Em média, a partir de sábado, foram ofertadas cerca de 11.450 viagens de ônibus na cidade e 200 linhas tiveram alteração de itinerário por conta da folia.

Recebendo foliões de diferentes cidades e também lidando com o deslocamento de pessoas entre blocos de diferentes partes da capital, a mobilidade urbana ainda contou com um problema a mais: a greve dos metroviários que deixou o modal fechado durante todo o carnaval. A farmacêutica Amanda Araújo, de 41 anos, destacou este ponto como um elemento ruim dentre as qualidades da festa.

“Eu nasci em BH, morei 12 anos fora e voltei há um ano e meio. O mineiro é  muito acolhedor, as pessoas são muito animadas, civilizadas e os blocos são muito organizados. Acho que o transporte foi um ponto negativo, ficou muito aquém, também pela greve do metrô. O policiamento fora dos blocos também deixou um pouco a desejar”, disse ao lado da filha no bloco Juventude Bronzeada.



Amanda sentiu falta do metrô para auxiliar no transporte de foliões (Foto: Clara Mariz/EM/D.A Press)



No Centro, durante o bloco Funk You, a estudante Giovana Melo, de 19 anos, foi mais uma foliã a destacar positivamente a organização dos blocos ao longo dos dias e a criticar o transporte. Ela ainda sugere que a folia dos próximos anos conte com tarifa zero nos coletivos.

“Eu achei positivo poder ir em bloquinhos o dia inteiro. Tinha bloquinho de manhã, de tarde e de noite. Negativo é que faltam lixeiras, tinham muito poucas em toda cidade. Eu também acho que podia ter ônibus de graça. Às vezes, quando o ônibus demorava, a gente tinha que vir de Uber ou a pé. A pé é longe e de Uber fica muito caro”, comenta.

Giovana Melo (dir.), ao lado das amigas Júlia e Luiza, acredita que passagens gratuitas ajudariam na locomoção durante o carnaval (Foto: Maicon Costa/EM/D.A Press)



As poucas lixeiras também foram lembradas à reportagem por outros foliões. Foi o caso do geógrafo Aloísio  Ângelo, de 50 anos. Para ele, o lixo nas ruas, no entanto, está mais na conta dos foliões do que da organização.




“Eu vim em dois dias e eu acho que poderia ter mais banheiros e o folião poderia estar mais consciente, jogar o lixo no lugar certo, mas no mais é isso. A estrutura tá legal, a segurança está interessante, não vi nenhuma confusão”, disse.

Aloísio acredita que foliões precisam ter mais consciência sobre o descarte do lixo (Foto: Clara Mariz/EM/D.A Press)



Segundo a PBH, entre a sexta e segunda-feira de carnaval, o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) da capital recolheu 480 toneladas de lixo nas ruas da cidade. O número, embora impressionante, está aquém das quase 850 toneladas registradas no último carnaval antes da pandemia, em 2020. Notabilizados por acompanhar, em blocos, o andamento dos cortejos neste ano, os funcionários da limpeza da cidade trabalharam em grande número. Em média, foram 940 deles por dia nas ruas.

Ponto negativo: acaba


“O carnaval está ótimo, mas o horário está muito curto, hoje deu 17h e já acabou. Eu queria mais, esse é o problema. O carnaval de Belo Horizonte é o melhor e todo mundo sabe disso. A animação, todo mundo dançando. Fora os roubos, que a gente tem que guardar dentro da calça, os banheiros químicos sujos e o valor dos banheiros pagos, foi tudo ótimo”, disse Marcela Alves, de 20 anos, ao sair de um bloco na Região Centro-Sul da capital.




O depoimento de Marcela é corriqueiro entre os foliões. Na Praça da Liberdade, onde uma área de relaxamento foi montada como alternativa de alívio em meio à euforia dos blocos, os vendedores Vitor Oliveira e Victor Silva, também aprovaram a empolgação de quem participou da festa em BH.

“Sou natural de Itaúna e vim passar o carnaval em BH. Estou desde sábado, comecei no Então Brilha! e vou finalizar hoje, está muito bom, muito animado. Achei a estrutura excelente, tudo muito organizado”, disse Vitor Oliveira. “Pra mim foi o melhor Carnaval de BH. A questão dos banheiros, acho que não conseguiu suprir a quantidade de foliões, mas no aspecto de segurança eu achei muito bom, não vi briga, não vi roubo. Aproveitei demais, deu pra suprir os dois anos de pandemia”, complementou Victor Silva.

A alegria da festa também foi destacada por quem curtiu em dose dupla. Clarisse Ferreira, Brenda Bastos, Gabriele Araújo e Flavia Pedroni, um quarteto de gestantes, curtiu os quatro dias e contou com o acolhimento dos blocos para já dar aos futuros foliões um gostinho do Carnaval de BH.




“A vida não para e com saúde, a gente pode ir a qualquer lugar, desde que o médico libere. E todos os blocos que eu estou participando tem a sensibilidade e carinho. Então eu já procuro os locais que eu sei que tem acolhimento”, explica Clarice. “A Joana já tem que vir para o mundo sabendo que ela pertence ao Carnaval. Os blocos estão maravilhosos e super organizados”, conta Flávia.  

Clarisse Ferreira, Brenda Bastos, Gabriele Araújo e Flavia Pedroni, um quarteto de gestantes na folia belo-horizontina (Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)



Turistas avaliam folia belo-horizontina


Antes do Carnaval, a previsão da a Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur), era de que a festa deste ano recebesse 205 mil foliões de outras cidades ao longo do período oficial do evento, de 4 a 26 de fevereiro. Pelas ruas da cidade, era de fato possível perceber uma diversidade de sotaques de um público que aprovou a festa na capital mineira.

Luana Saito é de São Paulo e conta que escolheu BH para passar o Carnaval pelo que falam sobre a cidade e sobre a folia. “BH tem fama, né? Estou aproveitando muito”, conta ela, que chegou na capital mineira na segunda-feira de manhã e vai embora apenas na manhã de quarta-feira. “Já tomei xeque-mate, uma bebida muito gostosa, e agora quero experimentar outras bebidas que vi que só tem por aqui”, completou.

Leandro Lelis, 38 anos, veio de Fortaleza, no Ceará, para prestigiar o carnaval Belo Horizontino e o Truck do Desejo. Ele explicou a escolha de deixar o Nordeste para vir curtir a folia mineira. “Eu vi que o carnaval aqui estava muito organizado, uma pegada muito política. E também eu já morei cinco anos aqui e não tinha curtido o carnaval do jeito que dá agora. O que me motivou vir para cá foi essa temática de expor a força da alegria, porque a alegria é mais que resistência, é potência”.




Em consonância com os belo-horizontinos, quem veio de fora também destacou como pontos negativos do carnaval os banheiros e o transporte. Foi o caso do casal paulistano Pedro Souza e Júlia Cabral. Eles vieram à capital mineira por indicação de amigos e garantem que repassarão a recomendação.

“Foi uma delícia o Carnaval daqui. A limpeza é muito boa, os preços das bebidas, pra quem é de São Paulo, estavam ótimos. O que poderia melhorar mesmo é a questão dos banheiros. Não sei se estava mal distribuído ou tinham poucos, mas com certeza não foram suficientes”, explicou Pedro.  “Quando fomos no Seu Vizinho, pela quantidade de gente que tinha lá, não é possível que os banheiros fossem suficientes. Outra coisa que poderia melhorar é o transporte público. É muito difícil chegar nos lugares, tem umas avenidas que o trânsito é muito difícil, não importa se tem semáforo, cada um passa na hora que quer e onde quiser, então senti falta de alguém controlando melhor o trânsito”, acrescentou Júlia. 

Para o carioca Paulo Roberto, de 58 anos, a festa de BH tem futuro e pode até ficar mais famosa que a de sua terra natal. Membro da escola de samba União da Ilha do Governador, ele hoje é servidor público na Grande BH e destacou o potencial da folia belo-horizontina.

“O carnaval tá se inovando mesmo aqui em Minas, a galera está se divertindo muito, se extravasando, legal mesmo. Tem muito policiamento, acho que isso tá intimidando aquele pessoal que vem para roubar. A estrutura está ótima. Não vai demorar muito pro carnaval daqui superar o do Rio”, disse.

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