Exatos dez mil dias atrás, William Bonner entrava como titular do maior telejornal do país, o Jornal Nacional, da TV Globo. A estreia do apresentador que inspirou milhares de pessoas a seguirem a profissão, ocorreu em 1° de abril de 1996, ao lado de Lillian Witte Fibe.
Muitas vezes um jornalista se depara com uma notícia triste, seja de uma tragédia ou a perda de uma pessoa. Porém, o profissionalismo fala mais alto e o sentimento fica de lado. Mas nem sempre é assim, e o apresentador não consegue segurar a emoção. Há 20 anos, quem estivesse com a televisão ligada no principal jornal da televisão brasileira no dia 7 de agosto de 2003 ficou surpreso ao ver uma cena inédita.
Nos minutos finais do JN, o jornalista se emocionou e chorou ao vivo ao noticiar a morte de Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo. William foi aos prantos ao ler uma carta assinada pelos filhos do empresário: Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto na qual agradeciam as manifestações do povo brasileiro em respeito à memória do pai e afirmavam o desejo de preservar e ampliar a sua obra.
O comunicador estava tão emocionado que precisou parar por duas vezes, para se recompor. Chegou a interromper a última frase para informar, olhando para a câmera, que terminaria a leitura. "Não somente preservar, mas ampliar essa obra é o nosso compromisso, e ela será ampliada [...] Esta é a nossa intenção, esta é a nossa determinação, este é o nosso compromisso [...] Eu vou concluir...", disse o jornalista, lendo a última frase com a voz embargada.
O âncora e editor-chefe completou a leitura e finalizou o telejornal logo na sequência, sem o tradicional "boa noite". Naquele dia, a outra titular do JN, Fátima Bernardes, não estava na bancada e o profissional dividiu a apresentação do informativo com Renato Machado. Nesta edição, os créditos foram exibidos sem a trilha sonora e todos os membros da redação do noticioso estavam de pé em silêncio, em homenagem a Marinho. Em seguida, a imagem do executivo trabalhando em seu escritório preencheu o vídeo .
"Quando chegou a hora, eu fui lendo, lendo, lendo, muito lento, porque sou chorão, eu sei, e me emociono com muita facilidade. Na gravação já havia interrompido a leitura diversas vezes, imagina ao vivo? Então, quando apareceu no teleprompter a última frase, pensei: 'Consegui', e no exato momento em que pensei isso, veio uma vontade incontrolável de chorar. Parei. Respirei, respirei e pensei: 'Meu Deus, não posso passar por isso agora. Tenho que terminar a carta'. Voltei a ler. De novo, travei. Pensei: 'E agora?' Estava um silêncio, e pensei no diretor de TV. Um diretor de TV nessa situação, o que ele faz? Ponha-se no lugar dele. Estava tudo parado, ele não sabia o que fazer, coitado. Foi quando disse em voz alta: 'Eu vou concluir…' Não estava dizendo isso para mim mesmo, como alguns poetas acharam que eu estava fazendo. Não. Também não disse para o público, ele não precisava saber disso. Eu disse 'vou concluir' para o diretor de TV, que devia estar desesperado! Nessa hora, ele deve ter dito: 'Graças a Deus, conclua!", explicou William Bonner ao Memória Globo.
Roberto Marinho morreu aos 98 anos, no dia 6 de agosto de 2003, no Rio de Janeiro. O fundador da Globo foi internado por causa de uma embolia pulmonar e foi levado às pressas para cirurgia, mas não resistiu ao procedimento.
Confira, abaixo, o vídeo: