Em entrevista ao apresentador EmÃlio Surita, do programa Pânico, da Jovem Pan News, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) comentou sobre as duas polêmicas que se envolveu nas últimas semanas, em relação à  influenciadora digital e dançarina Thais Carla, com quem ele teria sido gordofóbico, e a deputada federal trans Duda Salabert (PDT-MG), a quem Nikolas se referiu com pronomes masculinos.
Sobre Thais, o deputado concordou com os apresentadores da atração de que foi "uma piada desnecessária", mas defendeu que usaram o caso para "calar a liberdade de expressão das pessoas".
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"O deputado não pode fazer uma piada, não pode falar, jogar bola no final de semana, ser uma pessoa? Poxa, se chamo uma pessoa gorda de gorda, é gordofobia. Se eu chamo uma pessoa magra de gorda, é fake news. O que eu faço?", questionou.
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"Logo depois, saiu algo sobre eu não ter tratado a pessoa com o pronome que ela queria, e estou respondendo criminalmente por isso. Eu sou obrigado a chamar uma pessoa de 'ele' porque ele deseja. Eu posso falar que existem pronomes que você quer ser chamado, posso dizer que há os adjetivos que quero ser chamado. A partir de hoje sou o 'deputado lindo e maravilhoso' e quem não me chamar disso é 'alguma-coisa-fóbico'. Eu posso ser preso, posso inclusive ficar inelegÃvel [pela declaração sobre Duda]", reclamou.
Enteda os casos
Thais Carla
Nas redes sociais, Nikolas Ferreira compartilhou uma foto de Thais Carla no último domingo (05/02) em um ensaio fotográfico vestida de Globeleza, da TV Globo com a legenda "Tiraram a beleza e ficou só o globo".
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Após a grande repercussão negativa do comentário, o deputado federal postou um vÃdeo irônico para comentar as crÃticas. "Fiz uma declaração aqui sobre essa modelo e vim aqui para pedir desculpa. Pedir desculpa, porque a gente fala, a gente erra, e onde já se viu, né? Onde eu tava com a cabeça de dar a minha opinião. De chamar uma gorda de gorda", disse, acrescentando: "Eu deveria ter tratado a obesidade como romance, como empoderamento, e não como doença" (...) "Onde já se viu, no século 21 ter opinião própria, né?", disse na gravação.
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Na sequência, postou uma foto editada em que simulou o próprio rosto em um corpo gordo e ironizou: "Pronto, agora tenho lugar de fala".
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A defesa da influenciadora digital e dançarina informou na semana passada que vai pedir indenização de R$ 52.080 por danos morais e uso indevido de imagem em ação contra o deputado. "Estar ocupando o cargo de deputado federal não autoriza o polÃtico a violar a legislação vigente no paÃs. Como especialistas em direito de imagem e em crimes cibernéticos, destacamos que a liberdade de expressão não é absoluta. Sendo assim, entendemos que o Sr. Nikolas Ferreira violou, para além da imagem, a honra da nossa cliente. Ações como essas são fundamentais para reestabelecer a dignidade da população gorda do Brasil, que ainda em 2023, segue invisibilizada e marginalizada em todas suas esferas", disseram as advogadas Ives Bittencourt e JanaÃna Abreu, que representam Thais em nota oficial.
Duda Salabert
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) acolheu na quarta-feira (08/02) um pedido do Ministério Público do Minas Gerais (MPMG) e determinou que a 5ª Vara Criminal de Belo Horizonte deve julgar a queixa-crime apresentada por Duda em dezembro de 2020. A Justiça tem até 30 dias para aceitar ou não a denúncia. Caso aceite, Nikolas se tornará réu e se for condenado pode pegar até três anos de reclusão, pena máxima estabelecida por crime de injúria racial à época do ataque do parlamentar.
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Na época da injúria, os dois eram vereadores da capital mineira. Nikolas Ferreira deu entrevista a um veÃculo de comunicação e se referiu a Duda Salabert, uma mulher transexual, usando pronome masculino. Ele nega ter cometido crime.
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O órgão ressaltou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de 2021, que equivale homofobia, transfobia e demais ações pautadas na discriminação com o racismo. Desde então, ofensas à identidade são tratadas, juridicamente, como injúrias raciais – no que foi definido como "racismo social".
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A parlamentar comemorou a decisão em suas redes sociais. "Se condenado, pode ir preso! O TJMG acolheu ação do Ministério e definiu que Nikolas responderá por injúria racial devido à transfobia contra mim. Posição importante do TJMG que afirma que ofensas transfóbicas são crime de racismo, como decidido pelo STF", escreveu Salabert.