Fred Nicácio foi um personagem importante no BBB 23. O médico, que nunca abaixou a cabeça para as cenas de racismo e estava empenhado em tornar a edição a primeira com um pódio preto, foi eliminado por ser quem ele é.

Em entrevista para o portal ECOA, do UOL, o dermatologista contou como foi sua experiência na casa mais vigiada do Brasil.




Fred Nicácio falou sobre constranger de forma pedagógica e explica:

"Eu faço uso do constrangimento pedagógico. Quando alguém me pergunta como eu lavo meu cabelo com dread, o que essa pessoa está querendo dizer é como eu lavo esse cabelo de preto que deve ser sujo e fedido, aí entra o que as pessoas gostam de falar que é deboche e é mesmo, mas eu chamo de constrangimento pedagógico. Nesses casos, eu respondo: "Ué, gente, você não lava o cabelo? Você usa a água primeiro, depois passa o shampoo na mão, passa ele no cabelo até fazer espuma e enxagua com água. Você não lava o cabelo assim?" É um constrangimento para que a pessoa entenda a merda que ela está perguntando."

Em seguida, o médico relembrou o retorno pela 'Casa do Reencontro':

'Quando eu fui para casa do reencontro com os outros nove participantes, ninguém ali fazia ideia de como seria aquela dinâmica, nós tínhamos direito de desistir logo no primeiro dia e isso nos foi dado, só que eu acho que é muito improvável que alguém colocasse, por exemplo, a Dania para conviver com os dois importunadores sexuais dela por 48 horas, mas se coloca uma vítima de racismo religioso para conviver com seus três agressores. Aí você consegue perceber que existe essa diferença na hora de catalogar o nível de dor.'

Fred também falou sobre a ação que moveu contra Gustavo, Key Alves e Christian, devido à intolerância religiosa cometida pelo trio durante o programa:

'Decidi tomar essa atitude porque essas pessoas precisam prestar contas para a sociedade do que fizeram. A branquitude tem a certeza de que isso não vai dar nada, então, se eu deixo isso passar, eu reforço essa ideia. "Ah, Fred, mas você vai ter dor de cabeça com isso para no final não dar em nada", se acontecer isso, vou mostrar que mais um caso de racismo provado com vídeo, com áudio, com os nomes das pessoas não deu em nada. Então, caramba, o que precisa acontecer? Como que a gente precisa provar? Quando essas pessoas vão ser punidas? É nesse intuito de levantar também este questionamento, seja qual for o resultado.'

Por fim, Nicácio relembrou o desejo de querer um pódio preto e comentou:

'As pessoas acreditam que existe racismo reverso. Só que não existe uma supremacia preta que oprima uma minoria branca, nós [pessoas negras] somos maioria populacional mas não maioria representada na política, na medicina, no judiciário. Então, não existe esse racismo reverso. E por que não uma final só de pretos? Tivemos diversas finais só com brancos.'

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