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Na apresentação, ele se batizou de Rapadura e acabou fazendo sucesso. “Caí de paraquedas e acabei indo para o programa. Dali para a frente, a coisa decolou e fui me aperfeiçoar. Fiz cursos com o Pedro Paulo Cava, o Fernando Limoeiro e não parei mais”, conta. Na mesma época, Jonas Santos foi chamado para ir para São Paulo. Devido ao grande sucesso do Bozo, a ideia de Silvio Santos era ter o personagem em cada praça. Durante uma semana, ele ficou nos estúdios do SBT, observando os atores que faziam o palhaço: Arlindo Barreto e Luís Ricardo. Até que chegou a hora do teste. “A prova de fogo era apresentar ao vivo um dos blocos do Bozo. Tive uma dor de barriga, tamanha a ansiedade. Chegaram a comentar que o veredicto final foi do próprio Silvio. Deu tudo certo, voltei para BH e virei o Bozo mineiro. O programa aqui era mais simplório. Cenário mais pobre, sem auditório, mas tinha desenho animado e as brincadeiras pelo telefone”, recorda.

A rotina de Jonas era puxada. De manhã, ele era o Rapadura, no Clubinho. À tarde, se transformava no Bozo em sua própria atração e à noite fazia shows ao lado de Tia Dulce e de outros integrantes do Clubinho. “Não era fácil. E você precisa ver como eu tinha uma psicologia com crianças. Por conta da maquiagem, já que passava praticamente o dia todo pintado, minha pele começou a ter problemas. Fiquei até afastado durante um tempo. Chegou um determinado momento em que fiquei esgotado. Cansei e decidi dar uma guinada. Fui para os Estados Unidos estudar, me aprimorar e acabei ficando dois anos por lá.” Hoje, Jonas Santos trabalha no ramo da hotelaria em Búzios, no litoral fluminense, onde se instalou há 20 anos.
SONHO Quando Jonas Santos resolveu dar sua guinada, o diretor e produtor Evandro Antunes entrou na vaga deixada por ele. Após concorrer com 20 candidatos, ele virou o novo Bozo. Mineiro de Monte Azul, no Norte do estado, ele conta que, desde criança, era fascinado pelo teatro e pelo circo e acalentava o sonho de um dia trabalhar na televisão. “Eu adorava a TV Itacolomi. Era meu sonho. Nunca imaginei que, um dia, fosse trabalhar na Alterosa, que era onde funcionava a Itacolomi”, diz.
Quando fez o teste para ser o palhaço, Evandro nunca havia assistido ao programa. Ele acredita que conseguiu o papel por ter seguido à risca o que o personagem propunha. “Colhi algumas informações sobre ele. Quando vi os outros candidatos fazendo um monte de pirueta, cambalhota e se dando mal, pensei: o Bozo é um palhaço, mas, antes de tudo, é um apresentador. Foi assim que ganhei a vaga”, descreve Evandro, que chegou a se formar no curso de artes dramáticas do Palácio das Artes.
Aos 58 anos e com um neto, Evandro guarda boas recordações daquele período e conta que chegou a conhecer Arlindo Barreto. No entanto, a relação só se estreitou quando o intérprete do Bozo paulista se converteu à Igreja Batista. “Nós nos aproximamos mais quando ele virou pastor, já que também sou evangélico”, diz. “Eu já conhecia um pouco da vida dele (Arlindo Barreto) e por isso quero muito ver o filme. Mas ali é a história do Arlindo, não a nossa”, frisa Evandro Antunes, que tem um grupo de palhaços desde 1984, Os Alegríssimos. Arlindo Barreto faz uma ponta em Bingo – O rei das manhãs.
Um dos aspectos mais marcantes do longa é a frustração de Bingo por não ser reconhecido, embora seu personagem seja muito famoso. Por contrato, a identidade do intérprete do palhaço não podia ser revelada. “Era uma coisa pela qual a gente passava também. Não podíamos revelar de jeito nenhum. Certa vez, houve um caso até engraçado. Minha mãe era professora de grupo e contou para os alunos que o filho dela era o Bozo. Um dia, eles foram até lá em casa e encontraram o Evandro. Não entenderam nada. Até briguei com ela por causa disso, e a mamãe argumentou: “Quem tem contrato com a emissora é você, não eu”, relata, entre gargalhadas.
Jonas Santos também ficava desapontado de não o reconhecerem seja na pele do Rapadura ou na do Bozo. Ele se lembra das dezenas de crianças que ficavam na porta da TV Alterosa à espera dos palhaços, que nunca apareciam. “A gente saía de cara limpa. Por trás do nariz vermelho e da maquiagem colorida de todo palhaço, há um ser humano que tem alegrias, tristezas, frustrações, sonhos, arrependimentos. Todo artista tem essa coisa de gostar de ser reconhecido; o anonimato frustra. O Jonas era uma pessoa, e o Bozo e o Rapadura eram outras. Mas, enfim, foi bacana enquanto durou. Quando me aposentar, quero retomar a minha carreira. Já vou ter idade para interpretar um vovô, ou algo assim (risos). Vai ser divertido também”, afirma.