A saúde é o bem maior do ser humano. Quando ele adoece, todos lutam, sonham e buscam um atendimento humanizado. O que inclui não só o tratamento com remédios, exames e intervenções cirúrgicas, mas também cuidados via recursos terapêuticos. É a preocupação em assistir as pessoas em sua integridade: corpo, mente e alma.
Com essa percepção, o Ministério da Saúde, por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), criada em 2006, instituiu no Sistema Único de Saúde (SUS) tratamentos como fitoterapia, acupuntura, homeopatia, dança circular/biodança, ioga, oficina de massagem/automassagem, auriculoterapia, massoterapia, medicina antroposófica (medicina complementar e integrativa de origem humanista que trabalha o conceito de que o ser humano tem o corpo, a psique e a individualidade) e termalismo (as diferentes maneiras de utilização da água mineral e sua aplicação em tratamentos de saúde). Essa visão, enfim, propõe o desenho de uma nova cultura de saúde e a ampliação da oferta dessas práticas na rede de saúde pública.
Conceito e prática que acabam de ser ampliados. Desde janeiro, entraram em vigor sete novos tratamentos de acordo com a Portaria 145/2017, publicada no Diário Oficial da União: arteterapia, meditação, musicoterapia, tratamento naturopático, osteopático e quiroprático e sessão de reiki. Vale ressaltar que o Ministério da Saúde repassa recursos federais para o custeio desses procedimentos. No entanto, cabe aos gestores locais decidirem pela oferta dos novos procedimentos.
A adesão é positiva e a meta é sempre crescer. Em 2016, foram feitos mais de dois milhões de atendimentos utilizando práticas integrativas e complementares nas unidades básicas de saúde. Desses, mais de 770 mil foram de medicina tradicional chinesa, que inclui a acupuntura; 85 mil de fitoterapia, e 13 mil de homeopatia. Mais de 926 mil foram de outras práticas que não tinham um código próprio para registro, que passam a ter a partir da publicação da Portaria 145. Atualmente, mais de 1.708 municípios oferecem práticas integrativas e complementares. A distribuição desses serviços está concentrada em 78% na atenção básica, principal porta de entrada do SUS; 18% na atenção especializada; e 4% na atenção hospitalar. São mais de 7.700 estabelecimentos de saúde que ofertam alguma prática integrativa e complementar em saúde. Cada município e gestor local aplicam os tratamentos de acordo com sua prioridade, preservando sua autonomia.
MEDICINA CHINESA EM BH
A Rede SUS-BH oferece o Programa lian gong em 18 terapias, prática corporal da medicina tradicional chinesa criada para prevenir e tratar dores crônicas do corpo. Ela faz parte das ações de prevenção de doenças e de promoção da saúde conforme orientações da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS – Portaria 687/2006 do Ministério da Saúde) e da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC – Portaria 971/2006 do Ministério da Saúde). “Enquanto atividade física, ela é leve, suave, mas firme e com resultado. Foi desenvolvida pelo médico ortopedista chinês Zhuang Yuan Ming em 1974 (ele morreu em 2013, aos 96 anos), portanto, não é uma prática milenar. É considerada uma técnica moderna que proporciona o mesmo resultado que a acupuntura. A diferença é por ser uma prática coletiva, autoprática e não invasiva. E talvez tenha prevenção maior, já que a pessoa com ou sem dor pode fazê-la”, explica Luzia Hanashiro, coordenadora do Programa lian gong em 18 terapias do SUS-BH.
Ao criar o lian gong, Luzia Hanashiro conta que a preocupação de Zhuang Yuan Ming foi que os pacientes com dor que o procurassem em sua clínica tivessem uma melhora duradoura e, se possível, definitiva. Não queria que eles retornassem com quadro parecido. “O objetivo é prevenir e tratar dores do corpo. Ele até lembra o tai chi chuan, mas os movimentos são diferentes, mais definidos, e cada exercício tem começo, meio e fim. É mais didático.”
Luzia Hanashiro explica que a técnica do lian gong é dividida em três partes. “A primeira, chamada anterior, começa com seis movimentos que tratam das dores do pescoço e do ombro. Em seguida, há mais seis movimentos que cuidam das dores nas costas e na coluna. E os seis últimos se ocupam dos membros inferiores (glúteos, pernas e pés, claro, englobando os joelhos). A segunda parte, chamada posterior, trata das extremidades do corpo: braços e pernas. Os movimentos de punho, mão e cotovelo. São 18 exercícios que trabalham as afecções das extremidades, prevenindo as tendinites e sinovites. E a última série dessa fase tem seis movimentos para melhorar o funcionamento dos órgãos internos. Já a terceira parte, chamada de continuação, vai trabalhar coração e pulmão, fortalecendo os dois órgãos.”
EMPODERAMENTO A coordenadora lembra que, como toda prática corporal chinesa, é trabalhado tanto a parte física quanto as emoções, que são imbricadas com o funcionamento dos órgãos. “Assim, as pessoas são beneficiadas com o bem-estar e equilíbrio emocional. O lian gong vai além da dor, é perceptível, inclusive, melhora na qualidade do sono, auxilia no tratamento do diabetes e da hipertensão, tem ação de promoção da saúde e é socializante”, diz. Para Luzia Hanashiro, a importância de levar a prática para a população é que muitos que procuram os centros de saúde para buscar remédios e reclamar encontram algo que vai atendê-los de outra maneira. Ao praticar o lian gong, eles passarão a ir aos centros para uma boa conversa, diminuem as queixas, ganham disposição física para o dia a dia, e reduzem os remédios, como analgésicos e anti-inflamatórios. Enfim, em vez de falar da doença, vão falar de saúde. “Essa é a transformação que queremos. O lian gong proporciona um empoderamento dessas pessoas, que são responsáveis pela sua saúde e pelo autocuidado. Assim, muitas deixam a fila dos postos de saúde. Temos pesquisa que mostra a diminuição de 78% da procura pelo centro de saúde”, ressalta.
Luzia Hanashiro conta que o lian gong chegou ao Brasil em 1987 com a chinesa Maria Lúcia Lee, e “em Belo Horizonte começamos a prática em 2007. A Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) pulveriza a oferta e sua prática, que é simples e fácil de executar. Feita em pé, sem exigência de qualquer aparato/equipamento, dentro dos centros de saúde ou no entorno. A única preocupação é que seja um local plano e ventilado. Então, pode ser na praça, no pátio, no estacionamento, na sala de reunião, na quadra, no salão paroquial. Toda regional tem, e hoje, dos 221 espaços, a maioria oferece. Dos 150 centros de saúde, 138 têm a prática com instrutor. É bem distribuído e qualquer pessoa pode fazer, ainda que tenha grande público entre os idosos, aposentados e senhoras”. A oferta é feita dentro do horário do centro de saúde. Mas tem lian gong todos os sábados, às 9h, no Parque Municipal desde 2009. Na pista de patinação, perto do Teatro Francisco Nunes. E em outros lugares como na Praça da Liberdade e na SMSA.
Tratamentos complementares
1 – Profissionais da Rede SUS-BH executam o reiki, meditação e massagens terapêuticas, mas essas são iniciativas pontuais, e ainda não implantados em toda a rede de atenção.
2 – A população de Belo Horizonte tem à sua disposição, pelo SUS, o Programa de homeopatia, acupuntura e medicina antroposófica (Prhoama). O programa é formado por profissionais médicos e esse serviço é oferecido pela PBH desde 1994. Os atendimentos são nos centros de saúde distribuídos em todas as regionais.
3 – Em 2016, houve aumento de aproximadamente 10% nos atendimentos com relação a 2015. Em 2016, foram 14.438 atendimentos de acupuntura, 18.620 de homeopatia, e 1.424 de medicina antroposófica.
4 – A SMSA conta com uma médica homeopata doutoranda da UFMG que desenvolve uma pesquisa que avalia a qualidade de vida de mulheres tratadas com as práticas do Prhoama. Há também dados coletados com a intenção de realizar uma pesquisa para avaliar a eficácia do tratamento homeopático durante as epidemias de dengue.
5 – Para participar do Prhoama, procure o centro de saúde mais próximo de sua casa.
6 – A Rede SUS-BH também oferece o Programa lian gong em 18 terapias. Ele é desenvolvido para prevenir e tratar dores crônicas no corpo. Os interessados devem procurar informações no centro de saúde mais próximo de sua casa ou acessar o site www.pbh.gov.br/saude.
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte,
por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA)