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A técnica foi apresentada no último Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia do Pé e Tornozelo, realizado na capital mineira no primeiro semestre. Segundo Wagner, antes do desenvolvimento da nova técnica, a única opção era tratar com a artrodese interfalangeana tradicional, uma cirurgia aberta. Mas, o procedimento por artroscopia traz uma série de benefícios para o paciente. Como é possível evitar cortes maiores para o acesso cirúrgico, diminuem-se os riscos de problemas de pele, necrose, infecção e trombose entre outros. Além de menos agressiva, a recuperação é mais rápida, já que agride menos os vasos sanguíneos da região do dedo.
A nova técnica também dispensa o uso de próteses articulares, sendo opção para casos antes sem solução. Para Wagner, os custos também são bem mais atraentes do que recorrer a próteses. “Basicamente, paga-se pela cirurgia e pelas lâminas de ressecção da cartilagem, que custam em torno de R$ 1 mil. Mas os convênios cobrem esses custos”, garante o especialista em cirurgia do pé e tornozelo. O procedimento, contudo, não é coberto pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas tem sido adotado no Hospital das Clínicas, beneficiando pacientes que não teriam condições de pagar. O procedimento dura apenas uma hora.
INOVAÇÃO
A artrodese não é uma técnica nova. Segundo Rafael Vilela, ortopedista especializado em cirurgia do pé, ela consiste na fusão cirúrgica de uma articulação, seja do joelho, tornozelo, cotovelo ou punho. “Qualquer região articular pode se beneficiar do procedimento. Recente é a realização da técnica por meio de artroscopia, quando microcâmeras auxiliam na limpeza da articulação. Só depois de retirada toda a cartilagem é possível fazer a fusão do osso com o parafuso. A equipe do HC é uma das pioneiras na artrodese metatarso-falangiano do halux, para tratar o halux valgus (joanete) com artrite reumatóide associada e artroses pós traumáticas.
Para a artrodese interfalangeana por artroscopia, entretanto, não há registros na literatura médica. Segundo Wagner, a lógica é a mesma, a inovação foi recorrer a um aparelho, o fixador externo, que funciona como um mini-distrator da articulação. “O local tratado é muito fechado, a articulação entre as duas falanges do halux. Não era possível entrar com material de vídeo nesse segmento. O que fiz foi recorrer a esse fixador externo, que já era usado nas artrodeses do tornozelo. Ele permitiu abrir a articulação e colocar dois pinos em cada falange. Com ele, consigo abrir o espaço articular sem precisar abrir a articulação, como na cirurgia convencional.”
Além do fixador externo, a técnica exige equipamentos específicos. A ótica usada, por exemplo, é de 2,7mm, enquanto a usada nas outras articulações chega a 4mm. Mas há no mercado óticas de até 1,9mm. A lâmina também é especial, chamada lâmina de shaver, bem menor. Para o procedimento são feitos dois pequenos cortes, entre 1,2mm e 2mm, um para a entrada da ótica e outro para a entrada da lâmina que vai retirar a cartilagem. Apesar de a articulação tornar-se fixa com a fusão das duas falanges, a pessoa não perde a função, conseguindo mexer o dedo e andar sem problemas.
FUTURO
Os equipamentos necessários para a artrodese interfalangeana por artroscopia são os mesmos utilizados nos Estados Unidos e Europa para cirurgias similares. O acesso à tecnologia, portanto, não seria o dificultador da disseminação da técnica no Brasil. Nossa dificuldade, segundo Wagner, é a prática. “Nos Estados Unidos, a legislação permite uso de cadáveres para treinamento com mais facilidade. Muitas vezes, a solução para desenvolver uma nova técnica é sair e treinar em centros americanos, com grandes despesas. Se o Brasil oferecesse mais incentivo para treinamento, poderíamos ter mais técnicas surgindo aqui”, lamenta.