Fritz de Sabará pode ser o mesmo do caso Zé Arigó, que, em 1950, atendeu mais de 4 milhões de pessoas

Histórias de cura espiritual fascinam e também levantam questionamentos. Há a possibilidade dessa entidade espiritual ter se manifestado em outros médiuns?

por Luciane Evans 04/05/2014 07:03

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A história, que ao mesmo tempo fascina, levanta questionamentos. É possível haver cirurgias com cortes, ainda que superficiais, sem dores? Há a possibilidade dessa entidade espiritual ter se manifestado em outros médiuns? Essas e outras questões não são novas e foram levantadas quando Adolf Fritz se manifestou pela primeira vez no Brasil, na década de 1950, por meio do médium mineiro Zé Arigó, que vivia em Congonhas, no interior de Minas, e se tornou conhecido mundialmente, tendo operado 4 milhões de pessoas, sem nada cobrar. Segundo contam estudiosos espíritas, a entidade que atende em Sabará é a mesma, tornando-se um velho conhecido de todos.

O sobrenome Fritz, conforme explica alguns seguidores da doutrina espírita, é comum na Alemanha, e há várias entidades espirituais que levam esse sobrenome. Mas, no caso de Sabará, trata-se, de acordo com a doutrina, de Adolph Fritz, médico alemão que trabalhou na Primeira Guerra Mundial. Sua primeira manifestação no país foi em José Pedro de Freitas, que nasceu em Congonhas em 1922. Filho de família muito pobre, Zé Arigó, como ficou conhecido, desde criança, tinha visões e, em 1950, começou a sofrer de dores de cabeça e alucinações que quase o levaram à loucura. Ele só se viu livre dos problemas quando assumiu seu lado mediúnico e foi incorporado pelo Doutor Fritz, curando milhares de pessoas. A diferença nessa história é que, hoje, o primeiro nome de Fritz, em Sabará, se escreve com “ph” no final. Já no caso de Zé Arigó, era Adolf. Seguidores da doutrina não sabem explicar o motivo da mudança.

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press/Reprodução
Vários veículos de comunicação, inclusive o EM, noticiaram, na época, a vida e a morte de Zé Arigó (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press/Reprodução)
Como fazia cirurgias espirituais com cortes, e seus procedimentos fugiam da compreensão da medicina tradicional, Arigó foi perseguido e processado. Foi preso duas vezes, acusado de curandeirismo e exercício ilegal da medicina. Na primeira, não chegou a cumprir pena, pois, na época, o presidente Juscelino Kubitschek assinou o indulto de soltura. Contam os espíritas que Arigó teria feito uma cirurgia na filha de JK, curando-a de uma doença grave. Na segunda vez, foi preso em Conselheiro Lafaiete, mas continuou, de dentro do presídio, a atender. Contam que Arigó devolvia a visão aos cegos, levantava paralíticos e tirava tumores, além de outras curas. Até mesmo o médium Chico Xavier o conheceu e o admirava.

Doutor Fritz costumava dizer que o motivo de tantas doenças no mundo é a “maledicência”. Arigó atraiu cientistas norte-americanos que estudaram sua vida, e até cineastas de outros países vieram conhecer as suas curas. Na época, o médium era notícia em todos os veículos de comunicação, inclusive no jornal Estado de Minas, que publicou dezenas de matérias sobre sua vida, e sobre as perseguições e acusações de fraudes que sofreu. Ele morreu em 1971, aos 49 anos, em um acidente de carro, na antiga BR-3. A imprensa já o considerava o mineiro mais célebre do século 20. Depois dessa história, muitas pessoas disseram que incorporavam Doutor Fritz, mas muitas foram desmarcaradas.

Ramon Lisboa/EM/D.A Press
Em Sabará, a médium Eliane tem 48 anos, já foi ameaçada e perseguida (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Dedicação

Em Sabará, a médium Eliane tem 48 anos, já foi ameaçada e perseguida. Tem uma vida completamente regrada, não sai à noite, não se casou, não teve filho. Desde que Doutor Fritz se manifestou, ela dedica a vida ao trabalho. Quem a conhece, diz se tratar de uma pessoa iluminada, doce e muito humilde. A mediunidade que ela desenvolve, segundo a doutrina, é a mais avançada, como foi com Arigó. Além da psicofonia (quando entidades espirituais se comunicam por meio da voz e do corpo de um médium), ela psicografa, e vê desencarnados. Quando se entrega ao encontro com Doutor Fritz é inconsciente.

Hoje, Eliane tem seis hérnias, um tumor na coluna e não se opera pela medicina terrestre, porque diz que precisa ajudar o trabalho de Doutor Fritz e, se se operar, terá que ficar de repouso, o que vai atrapalhar os atendimentos na Fraternidade Olhos da Luz. Segundo explica um estudioso do espiritismo que não pode se identificar, os médiuns são apenas instrumentos para os trabalhos das entidades espirituais. “O Doutor Fritz não aproveita do corpo de ninguém. Isso faz parte do processo de contribuição deles. Esse tipo de pessoa não é escolhida à toa. A doença, talvez, é a forma de reequilibrar a saúde do espírito”, comenta.

Sobre as cirurgias sem dores e sem sangramento, segundo a doutrina, as aplicações das agulhas são semelhantes ao procedimento de acupuntura. “Os cortes, quando existem, são rasos. As hemorragias não ocorrem; há nessas cirurgias a presença de várias entidades espirituais que ajudam no estancamento do sangue. Além disso, há fluidos espirituais que auxiliam nisso.” Segundo esse estudioso, quando a pessoa incorpora uma entidade espiritual, o centro nervoso é controlado pelo espírito. “Nesse comando, os olhos, as falas e expressões mudam”, esclarece.

Serviço
Instituição Casa de Auxílio e Fraternidade Olhos da Luz:

Rua Charles Bizzet, 1.250, no Bairro Rosário II, Sabará
Telefone: (31) 3671- 2957
Devido ao estado de saúde da médium, a fraternidade avisa, pelo site, com antecedência, o dia em que será feito o atendimento pelo Doutor Fritz.
Site: https://instituicaocasadeauxilioefraternidadeolhosdaluz.com/


Trabalho social
Com alimentos arrecadados na Campanha do Quilo, a Fraternidade Olhos da Luz distribui cestas básicas para 250 assistidos pela fraternidade. São cerca de 300 quilos por campanha. Além desse trabalho, há ainda a Escola Profissionalizante Doutor Adolph Fritz (EPAF), com vários cursos oferecidos gratuitamente à comunidade carente.