Depois de quatro anos com trajetos em comunidades de Belo Horizonte, o Pena de Pavão de Krishna voou em Morro Vermelho, distrito de Caeté, na Grande BH, no domingo de carnaval. Mesmo sob chuva torrencial, a festa não perdeu a beleza e emocionou tanto quem foi como os moradores que os acolheram. Por volta das 10h, aos primeiros versos de Aflorou, o Pavão partiu com o propósito de refletir acerca da preservação das águas. A resposta da natureza não poderia ser outra senão abençoar o desfile com as águas de Oxum, orixá da água doce homenageado este ano. Cerca de 1 mil pessoas atenderam ao chamado.
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O percurso começou em frente à Capela de Nossa Senhora do Rosário, onde os “pavões” fizeram piquenique com frutas e alimentos veganos. Mesmo com o temporal durante toda a manhã, homens, mulheres e crianças seguiram cantando e dançando até a Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, na Praça da Matriz. Lá encerraram o cortejo com roda de ciranda, que tomou conta de todo o largo de frente para a igreja.
Devido à estrada de chão, o caminhão de som e o que levava a escultura do pavão tiveram que parar em diversos pontos do trajeto, mas nada que mudasse o espírito de comunhão de quem estava ali. Mais do que a experiência da folia, quem topou o convite estava disposto ao contato com a natureza no que ela tem de belo e no que tem de desafiador. A lama tornou o caminhar difícil, mas muitos não se importaram de tirar os sapatos para seguir. Caprichosamente pintados, boa parte dos rostos azuis resistiram à chuva. A organização providenciou transporte na quantidade suficiente para que todos os que manifestaram interesse pudessem acompanhar o cortejo. Às 7h, cinco ônibus saíram da Praça da Estação tendo o distrito como destino.
Parceria
Ao sair em Morro Vermelho, o Pena busca chamar a atenção para a segurança hídrica. “É primordial conversarmos sobre a preservação das águas”, afirmou o regente Túlio Nobre Ribeiro. Para que pudesse sair no distrito, o Pena buscou parceria com o Movimento pela Preservação da Serra da Gandarela. “O Morro Vermelho está no entorno da Serra da Gandarela, uma porção próxima ao parque nacional que ficou desprotegida”, disse Maria Teresa Corujo, membro do movimento. Ela ressaltou a importância da riqueza natural da região, onde está o aquífero fundamental para abastecimento da capital e região metropolitana, e também pelo aspecto histórico: o distrito é berço da Guerra dos Emboabas (1707 a 1709) entre bandeirantes e portugueses para a exploração das minas de ouro.
Os moradores da localidade receberam com curiosidade os pavões. Muitos foram para a janela filmar e fazer fotos do cortejo incomum. É o caso da engenheira de segurança Solange Pinheiro, de 44 anos, que, com o pai, acompanhou pelo alpendre. “Ao vê-los passar, senti uma energia muito boa”, disse. Muitas pessoas, que vieram de outras localidades de Caeté, gostaram do que viram. “Eles vão voltar novamente? Gostei tanto do cortejo que pretendo voltar 15 vezes a Morro Vermelho”, elogiou o topógrafo Antônio José Soares, que estava com mais sete pessoas numa casa alugada no local.
Hoje tem
Disputa grande
Nesta segunda-feira, desfilam os blocos Baianas Ozadas e o estreante Havayanas Usadas, formação dos dissidentes do Baianas. Por causa de divergências em relação à formação da bateria e busca por patrocínio, o bloco rachou. É a primeira vez que eles saem depois da briga.
Oração de São Francisco
Quando o Pavão alça voo é um dos momentos mais bonitos do cortejo. Para tanto, os integrantes fazem uma preparação com um mantra. Este ano, Rafael Gonçalves Costa, um dos idealizadores, recitou a oração de São Francisco, santo reconhecido pela defesa dos animais e pela integração com a natureza. Eles tiveram as bênçãos do padre da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Raposos.
Ao som dos tambores
Crianças e adolescentes da organização não governamental Casa de Gentil se apresentaram antes do início do cortejo do Pavão. Fundada em 2012, a casa é um espaço de convívio e culturas, idealizado e organizado por voluntários.
Festa e espiritualidade
Há três anos no corpo de baile do Pena, a advogada Cristiane Jovina destacou a importância de manifestações que mesclem a espiritualidade, a festa e o propósito social. Durante a viagem de uma hora de duração, ela e o filho cantaram os afoxés e canções que embalam os pavões.
Deu onda
Longe do stresse
Muitas famílias foram ao cortejo do Pena de Pavão de Krishna. Com os corpos pintados de azul, a professora Elizabeth Ângela, de 40 anos, e o marido, Tiago Calil, de 32, levaram a pequena Lara para conhecer o grupo. Para fugir da grandiosidade do carnaval de Belo Horizonte, eles optaram por pousada em Morro Vermelho, durante todo o período da folia. Para eles, a proposta do Pena casa bem com a opção que fizeram por um carnaval para descansar do estresse da cidade grande. Aos 3 anos de idade, a pequena se encantou com tantas pessoas pintadas de azul, inclusive os pais.